O Grande Prêmio da África do Sul começava a sofrer seus primeiros golpes ainda em 1984. Após as equipes terem que dizer em qual volta seus carros teriam que parar por causa da estreiteza dos pits, a corrida em Kyalami perdia seu principal patrocinador e perdia o status de última corrida do ano, sendo mandado para o início da temporada. Após quase não correr na África em 1984, a F1 aportou em Kyalami ainda pensando no domínio da McLaren em Jacarepaguá e se isso aconteceria novamente. Os treinos na sexta (a corrida era realizada no sábado) mostraram uma falsa pista com Nelson Piquet conquistando a pole, com Keke Rosberg fechando a primeira fila. Cinco equipes diferentes ficaram com as cinco primeira posições, com Lotus (Mansell) e Renault (Tambay) na segunda fila. A McLaren só apareceria em quinto lugar com Alain Prost, vencedor no Rio, enquanto Lauda era apenas o oitavo colocado.
Com 27 inscritos para 26 vagas no grid, houve uma briga feroz entre as equipes pequenas. Tyrrell, Arrows, Osella e Ram brigaram para não sobrarem a corrida no sábado e, para surpresa geral, quem acabou sobrando foi o rápido Thierry Boutsen na Arrows, que ainda usava os motores Ford Cosworth aspirado. No entanto, o bela acabaria fazendo parte da corrida após o maior susto de todo o final de semana. Durante o warm-up no sábado, o italiano Piercarlo Ghinzani, que a duras penas conseguiu classificar seu Osella para o grid, sofreu um grave acidente na curva Jukswei. O carro foi partido ao meio e o tanque de gasolina explodiu em chamas. Sem ter a certeza de como estava o italiano e com muita fumaça no local, vários pilotos abandonaram seus carros para prestar socorro, como foi o caso de Manfred Winkelhock e Martin Brundle. No entanto, não foi preciso um salvamento rápido já que os comissários de pista agiram rápido e apagaram o fogo a ponto de Ghinzani ter sofrido apenas leves queimaduras nas mãos e no nariz. Foi um susto enorme, mas Kyalami não foi palco, mais uma vez, de uma tragédia.
Grid:
1) Piquet (Brabham) - 1:04.871
2) Rosberg (Williams) - 1:05.058
3) Mansell (Lotus) - 1:05.125
4) Tambay (Renault) - 1:05.339
5) Prost (McLaren) - 1:05.354
6) Fabi (Brabham) - 1:05.923
7) De Angelis (Lotus) - 1:05.953
8) Lauda (McLaren) - 1:06.043
9) Warwick (Renault) - 1:06.056
10) Alboreto (Ferrari) - 1:06.323
O dia sete de abril de 1984 não estava tão quente no autódromo de Kyalami e havia algumas nuvens nos céus sul-africanos. Piquet havia conquistado apenas duas poles em 1983, quando foi campeão, inclusive em Kyalami, mas todos sabiam qual o segredo do piloto da Brabham: o potente motor BMW. Num circuito com uma enorme reta dos boxes, Piquet pôde utilizar a prodigiosa potência da usina alemã nos treinos, mas na corrida, ninguém garantia a confiabilidade do propulsor da BMW. Porém, a corrida começou tumultuada quando a McLaren de Prost teve um problema de última hora e o francês teve que sair correndo atrás do carro reserva, mas quando o piloto da McLaren saiu com seu MP4/2, a volta de apresentação já tinha sido dada e sua desclassificação era apenas questão de tempo. Só não o foi por que a primeira largada foi abortada quando Mansell e Patrese tiveram problemas. Devidamente avisado, Prost largaria dos boxes na segunda tentativa, quando deu para perceber a potência do motor BMW. Piquet larga muito mal e quando parecia ser engolido pelo pelotão, o brasileiro faz seu Brabham sair do lugar e de forma impressionante, ele já estava em segundo antes da primeira curva!
Rosberg se aproveita para assumir a liderança, enquanto Mansell, que podia ter se aproveitado da má largada de Piquet, saí ainda pior e desce para as últimas posições. O piloto da Williams era o único dos pilotos que lideravam o pelotão a ter os pneus Goodyear, enquanto Brabham, McLaren e Renault usavam os pneus Michelin, que demonstraram grande desempenho em Kyalami. Rosberg faz de tudo para segura Piquet durante a primeira volta, mas quando chegam na reta, Piquet ultrapassa o finlandês, assumindo a ponta da corrida. Teo Fabi, companheiro de equipe de Piquet na Brabham, tinha feito uma ótima largada e estava em terceiro lugar, mas sendo ameaçado por Lauda, que discretamente fazia sua corrida rumo à liderança. Sem poder se defender dos demais adversários, Rosberg é ultrapassado por Fabi e Lauda quando os três chegaram na grande reta dos boxes. Enquanto isso, Piquet disparava na frente e a Brabham fazia uma bela dobradinha.
Na corrida que lhe deu o título no ano anterior, Piquet usou uma estratégia pouco usual, quando largou com pouquíssimo combustível e com pneus extra-macios. Com os reabastecimentos proibidos, poucos acreditavam que o brasileiro poderia tentar uma tática parecia, mas seu ritmo no início de prova indicava o uso de pneus extra-macios e isso ficou claro quando Fabi, com a mesma estratégia, foi ultrapassado por Lauda na nona volta, completamente sem pneus. Enquanto isso, Rosberg se segurava na quarta posição e embarreirava as duas Renault de Tambay e Warwick. Prost, que havia largado dos boxes, fazia uma boa corrida de recuperação, enquanto Ayrton Senna quebrava o bico do seu Toleman ainda no início da prova, mas prefere permanecer na pista mesmo com o carro nitidamente desequilibrado.
Ainda na décima segunda volta, Fabi faz sua primeira parada e Piquet perde rendimento. Os pneus extra-macios começavam a se desgastar e Lauda se aproximava rapidamente do brasileiro. Fabi tem o seu turbo quebrado na volta 18 e quanto Lauda se preparava para ultrapassar Piquet, o piloto da Brabham levantou seu braço direito sinalizando que estava indo em direção aos boxes. Numa prova com 75 voltas, isto parecia arriscado, mas Piquet teve em Rosberg um ótimo escudeiro e quando ele voltou à pista, ele estava em quinto atrás das duas Renaults e do próprio piloto da Williams. Com um carro rápido e equilibrado, Piquet ultrapassou os três carros à sua frente em apenas três voltas e já aparecia na segunda posição, mas por pouco tempo. A enorme potência do motor BMW cobrou seu preço quando Piquet parou ainda na volta 29 com o motor quebrado. Mais uma vez, nenhum Brabham chegaria ao fim da prova e Piquet, atual campeão, estava zerado. Com isso, Lauda tinha uma confortável liderança de 30s em cima de Rosberg, que começava a ser fustigado por... Alain Prost!
O piloto da McLaren demonstrava o domínio da equipe naquele momento, mas a grande recuperação do francês o fez procurar os boxes logo e na volta 31 Prost fez sua primeira parada. Logo atrás, Tambay também fazia o mesmo e o pit da Renault ficava logo atrás do da McLaren quando algo curioso aconteceu. Os dois franceses foram liberados pelos seus pits quase ao mesmo tempo e sem querer perder muito tempo, Tambay simplesmente atravessa o pit da McLaren, para grande susto dos mecânicos! Quando todos completaram suas paradas, ficou claro que Jacques Laffite (Williams) e Michele Alboreto tentariam chegar ao fim da corrida sem visitar os boxes e ocupavam, respectivamente, a segunda e terceiras posições. Os pneus Michelin podiam ser os mais rápido daquela tarde de abril, mas a Goodyear tentava compensar essa desvantagem com um pneus muito resistente. Prost estava em quarto e com pneus mais novos, ultrapassou Alboreto e Laffite sem muito esforço. A McLaren estava novamente em dobradinha na frente.
Laffite e Alboreto tentavam levar seus carros até o final, mas outros carros com pneus novos se aproximavam rapidamente dos dois. Warwick, Tambay e Rosberg se aproximavam dos dois e foram ajudados quando Laffite abandona na volta 60 com a transmissão quebrada. Bem nesse momento Tambay ultrapassa Alboreto e assume a terceira posição, mas o francês estava uma volta atrás dos dois ponteiros...
Warwick também deixa Alboreto para trás e no final da prova ultrapassa Tambay. Assim como havia acontecido no Brasil, o francês estava economizando combustível para tentar ver a bandeirada e como havia ocorrido em Jacarepaguá, Tambay acabou com seu carro parado por pane seca. Mais atrás, Senna fazia uma corrida consistente e já estava em sétimo, a uma posição de chegar a zona de pontuação, mas o esforço do brasileiro seria recompensado quando faltavam cinco voltas. Alboreto, em quarto lugar, tem problemas de iginição e abandonar, dando a Senna seu primeiro ponto na F1. Porém, o carro pesado e difícil de dirigir por causa do bico quebrado tinha sido demais para o corpo franzino de Senna. Após a corrida, o brasileiro teve espasmos musculares em todo o corpo e teve que ser levado ao hospital após ser retirado do carro quase desmaiado. Após esse problema, Senna passou a cuidar do seu físico e quando estava no auge, era o piloto mais bem preparado do mundo. Enquanto isso não chegava, a McLaren fazia uma fácil dobradinha, com apenas seus carros completando as 75 voltas regulamentares e Prost quase um giro completo atrás de Niki Lauda, que vencia pela vigésima vez na F1. Derek Warwick conquistava um pódio pela primeira vez na F1 e a categoria começava a ver um domínio poucas vezes visto até então.
Chegada:
1) Lauda
2) Prost
3) Warwick
4) Patrese
5) De Cesaris
6) Senna
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