Nigel Mansell podia ser tosco, um brutamontes ao volante, mas seu maior rival nas pistas (e nos boxes também) Nelson Piquet tem uma boa definição sobre Mansell: ele era rápido pacas! Mansell era uma aposta meio desesperada da torcida inglesa para que finalmente um súdito da rainha fosse campeão mundial de F1, algo corriqueiro nos anos 60, porém Mansell demorou várias temporadas para decolar na categoria máxima do automobilismo. Estreando pela Lotus em 1980, Mansell passou quatro anos apanhando de Elio de Angelis e convivendo com um carro pouco confiável e que raramente ficava na metade de cima do pelotão. A mudança para a Williams em 1985 foi decisiva para a carreira de Mansell. O inglês não tinha muitos resultados importantes, mas já era um ídolo da torcida inglesa e a mídia britânica o idolatrava ao comando do carismático narrador inglês Murray Walker. Sua primeira temporada na Williams foi igual aos tempos de Lotus: muita cacetada de Keke Rosberg. Porém, no final do ano Mansell tira o dedo da boca e conquista sua primeira vitória justamente em Brands Hatch, para delírio total dos seus compatriotas. Era a primeira vitória de um inglês desde James Hunt!
O ano seguinte foi o início da briga com Nelson Piquet e também o início da decolagem da carreira de Mansell. De piloto atrapalhado, Mansell passou a ser respeitado com suas vitórias e sua agressividade. Contudo isso não lhe garantiu o título de 86 e 87, quando a Williams tinha disparado o melhor carro. Após um péssimo ano em 1988, Mansell partiu para a Ferrari e logo na estréia pela equipe vence no Brasil, mas a escuderia ainda não era páreo para a McLaren. Mansell teria que esperar mais um ano para realizar o sonho de ser campeão, mas eis que a Ferrari traz Alain Prost que só queria uma coisa: a garantia de ser primeiro piloto. Mansell fica extremamente desapontado e chegou a anunciar sua aposentadoria em 1990. Então o anjo Frank Williams aparece na vida de Mansell novamente. Querendo voltar aos áureos tempos, Frank chama Mansell para sua equipe em 1991 e Nigel aceita com a mesma condição de Prost na Ferrari: ser primeiro piloto.
Quando Mansell desembarcou novamente na Williams no início de 1991 ele já não era nenhum garoto e seus 37 anos já não lhe permitia muita espera: era agora ou nunca! Ele tinha que conquistar seu primeiro título custe o que custar e para melhorar, o carro que a Williams tinha feito juntamente com a Renault era realmente bom, mas quebrava demais. O carro era o ápice em tecnologia na época e mesmo com a decepção de ter perdido o título para Senna em 1991, tanto Mansell como seus adversários já sabiam: agora era a hora do Leão!
O Williams FW14B era um carro acima dos demais e com Mansell sendo primeiro piloto escrito no contrato, o inglês era favorito destacado. Mansell venceu simplesmente as cinco primeiras corridas do ano com o pé nas costas. Após perder a corrida de Mônaco para Senna e bater sozinho no Canadá, Mansell vence três corridas na seqüência e poderia ser campeão na Hungria. Após oito vitórias em dez corridas, Mansell só precisava de um segundo lugar para se tornar campeão. Isso se Patrese abandonasse. Teoricamente uma tarefa fácil, mas nada para Mansell veio sem muito sofrimento.
Na Classificação Patrese, único que ainda lhe poderia fazer cócegas, ficou com a pole. Mansell perder a pole era algo tão atípico em 1992 que ele ficou bastante nervoso para a corrida por causa disso. Típico era ver Senna se contentar com a terceira posição no grid e foi nessa posição que ele iria largar. Schumacher, em sua primeira temporada, ficou ao lado do seu ídolo e já mostrava suas garras.
Grid:
1) Patrese(Williams) - 1:15.476
2) Mansell(Williams) - 1:15.643
3) Senna(McLaren) - 1:16.267
4) Schumacher(Benetton) - 1:16.524
5) Berger(McLaren) - 1:17.277
6) Brundle(Benetton) - 1:18.148
7) Alboreto(Footwork) - 1:18.604
8) Boutsen(Ligier) - 1:18.616
9) Alesi(Ferrari) - 1:18.665
10) Capelli(Ferrari) - 1:18.765
Antes da largada, todas as atenções estavam nos boxes da Williams. Mansell não escondia o nervosismo e andava para lá e para cá, enquanto que os engenheiros ingleses estavam tensos. Na largada Mansell tenta ir para cima de Patrese, mas o italiano fecha seu companheiro de equipe e isso permite que Senna e Berger (que tinha feito uma ótima largada) ultrapassassem Mansell por fora na primeira curva. As coisas não tinham começado muito bem para Mansell. Mais atrás, as duas Ligiers promoviam o momento pastelão ao se tocarem e rodarem. Tanto Boutsen como Erik Comas estavam fora, levando com eles a Lotus de Johnny Herbert e o Fondmetal de Gabriele Tarquini, que tinha conseguido a melhor posição (12o) de largada da pequena equipe.
Com as duas McLarens à frente de Mansell, Patrese tratou de disparar na frente. Mansell não ficou muito tempo atrás de Berger e usou a potência do motor Renault para ultrapassar o austríaco na reta dos boxes. E sem precisar da freada da primeira curva! Logo Mansell encostou em Senna e sem nenhuma surpresa, teve muito mais dificuldades para ultrapassar. Mansell sempre tentava a ultrapassagem no final da reta dos boxes, mas Senna sempre freava bem mais tarde. Quando os líderes alcançaram os retardatários, Senna escapou um pouco de Mansell e quando o inglês foi atrapalhado pela Dallara de Pierluigi Martini, Mansell ficou alucinado.
Com todas essas peripércias, Mansell acabou errando na volta 31 e permitiu a ultrapassagem de Berger, mas Mansell não estava de brincadeira e ultrapassou o piloto da McLaren três voltas depois. Porém, a corrida começa a mudar de ares à favor de Mansell. Na volta 39 Patrese roda bizonhamente na curva 3 do travado circuito húngaro. O italiano volta à pista apenas em sétimo, mas abandonaria na volta 55 com o motor quebrado. Mansell só precisava terminar em segundo e por isso alivia o ritmo. A Williams fica preocupada e mostra placas de "Puncture?" para Mansell, perguntando se ele estava com problemas nos seus pneus. Eram os fantasmas de Adelaide em 1986!
Senna sabia que não tinha chance de enfrentar as Williams em condições iguais e por isso procurava meios de reduzir a inferioridade. Em Hungaroring o brasileiro resolveu tentar ir até o final da corrida sem trocar os pneus. Pensando no campeonato (ou seria trauma?) Mansell troca seus pneus na volta 62 e como normalmente acontecia, os mecânicos da Williams se atrapalharam no pit-stop e Mansell caía para sexto! O título antecipado estava novamente a perigo. Berger assumia a segunda posição e fazia uma improvável dobradinha da McLaren, mas o austríaco era pressionado pelos pilotos da Benetton liderado por Schumacher. Na volta 60 Schumacher tenta uma ultrapassagem otimista em cima de Berger e teve que frear para não bater na McLaren, mas o alemão é atingido na traseira pelo companheiro (?) de equipe Martin Brundle.
O toque sofrido por Brundle não tardaria a dar problemas a Schumacher e no início da volta 63 a asa traseira da Benetton voa em plena reta dos boxes e Schumacher vira passageiro do seu carro. O seu Benetton começa a rodar à alta velocidade, mas fora o susto o alemão saiu do carro sem problemas. Após sua parada Mansell imprime um ritmo fortíssimo e logo cola na traseira do surpreendente Lotus de Hakkinen, então quarto colocado. Mansell usa a freada da reta dos boxes para deixar o finlandês para trás. Na volta seguinte, Mansell se aproveita da Jordan do retardatário Maurício Gugelmin para ultrapassar Brundle também na reta dos boxes. Duas voltas depois Mansell parte para cima de Berger. O austríaco resiste desta vez e fecha desavergonhosamente Mansell, mas o inglês passa poucos metros do muro dos boxes para completar a ultrapassagem.
Finalmente Mansell estava no lugar onde queria. O segundo lugar era tudo que ele precisava para realizar o seu sonho. Senna faz uma parada nos boxes apenas por precaução, mas a diferença de quase um minuto permitiu que o brasileiro voltasse ainda na frente e vencesse pela segunda vez na temporada. Após ultrapassar Berger, Mansell andou com todo cuidado do mundo nas oito voltas finais e depois de doze temporadas, vinte e nove vitórias e três vice campeonatos, Mansell finalmente pode comemorar seu primeiro título na F1. Enquanto cruzava a linha de chegada, um torcedor maluco invadiu a pista com uma enorme bandeira da Grã-Bretanha.
Roseanne Mansell (realmente ela não era das mais bonitas...) era uma das mais felizes no pit-wall e abraçava Peter Windsor, empresário de Mansell. Senna foi o primeiro a cumprimentar Mansell quando este chegou ao parque fechado e como não poderia deixar de ser, Mansell subiu ao pódio mancando e fazendo cara de dor. Porém, a emoção do primeiro título estava presente nas fotos comemorativas e no banho de champanhe que o inglês dava nos seus mecânicos. Em frente ao pódio, um mar de bandeira inglesas dava a dimensão do carisma de Mansell. Ele era um ídolo inglês! Após conquistar finalmente o seu sonho, Mansell parte para os Estados Unidos onde conquista o título da F-Indy. Com a morte de Senna, Mansell é novamente chamado por Frank Williams para salvar o dia e Mansell consegue sua última vitória no controverso GP da Austrália de 1994. Mesmo não gostando muito de Ron Dennis, Mansell é contratado pela McLaren para 1995, mas com 41 anos Mansell se aposenta após poucas corridas. Passados quinze anos, nenhum piloto inglês teve tanto carisma com seu público como Mansell e Hamilton apenas tentar chegar aos pés do seu compatriota. Porém, mesmo que conquiste o título deste ano, dificilmente Hamilton superará a emoção que Mansell proporcionou a todos na F1 e na Grã-Bretanha.
Chegada:
1) Senna
2) Mansell
3) Berger
4) Hakkinen
5) Brundle
6) Capelli
Um comentário:
Ufa!!! Hoje faz 16 anos que Nigel Mansell conquistou o tão sonhado Campeonato Mundial de Fórmula 1. Dpois de três vices (1986, 1987 e 1991), se não viesse esse, seria o "2º Stirling Moss" que foi vice por 4 vezes (1955, 1956, 1957 e 1958). Com um carro fantástico, Mansell soube tirar muito bom proveito dele. Pena que o piloto não estaria em 1993, já que teria que dividir espaço com Alain Prost (que ficou ausente no campeonato de 1992) e que tinha quase tudo acertado com a equipe de Frank Williams. Mansell se continuasse teria um salário muito reduzido mesmo sendo o atual campeão.
Fábio Kawagoe
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