quarta-feira, 15 de agosto de 2007

História: 25 anos da primeira vitória de Elio de Angelis

A F1 precisava urgentemente de boas notícias no final de verão europeu de 1982. As mortes de Villeneuve e Paletti estavam vivas na memória de todos os pilotos e poucos dias antes, a carreira do então líder do campeonato Didier Pironi estava terminada após um gravíssimo acidente durante os treinos do Grande Prêmio da Alemanha. Após correr em Paul Ricard e Hockenheim, as equipes com turbo teriam mais uma pista que lhe favorecia enormemente: Zeltweg. Se não bastassem as grandes retas e as curvas de raio longo, o circuito de Österreichring fica num local de alta altitude, ou seja, era o sonho dos pilotos com turbo!

Com a proximidade da fronteira austríaca, milhares de tifosi saíram de toda Itália para torcer que Patrick Tambay repetisse a vitória na Alemanha. Os italianos, que sempre apoiaram cegamente a Ferrari, nunca se animaram muito com seus pilotos. Entre os muitos pilotos tricolores que corriam na época, estava Elio de Angelis. Vindo de uma família muito rica, De Angelis estreou na F1 em 1979 com apenas 21 anos em um Shadow. Seus bons resultados, principalmente na chuva em Watkins Gle, o levaram a equipe Lotus, porém De Angelis deu o azar de enfrentar a pior fase da equipe de Colin Chapman. De Angelis era rápido e um verdadeiro gentleman driver, mas não tinha equipamento para mostrar todo seu talento e em 1982 seu melhor resultado eram três quartos lugares.

Como era esperado, os carros turbo dominaram totalmente os primeiro lugares do grid, mas desta vez a Brabham ficou com toda a primeira fila, onde normalmente ficavam os pilotos da Renault. Piquet conseguia sua sétima pole na carreira com uma pequena vantagem em cima de Patrese. A Ferrari de Tambay conseguiu separar os dois carros da Renault ao ficar em quarto, ficando atrás de Prost. Como normalmente ocorria, Keke Rosberg era o mais rápido dos carros aspirados, mas surpreendentemente muito próximo do carro turbo de Arnoux. A Lotus de De Angelis era o seguinte, mostrando que o italiano estava bem à vontade no seu Lotus aspirado.

Grid:
1) Piquet(Brabham) - 1:27.612
2) Patrese(Brabham) - 1:27.971
3) Prost(Renault) - 1:28.864
4) Tambay(Ferrari) - 1:29.522
5) Arnoux(Renault) - 1:30.261
6) Rosberg(Williams) - 1:30.300
7) De Angelis(Lotus) - 1:31.626
8) Alboreto(Tyrrell) - 1:31.814
9) Daly(Williams) - 1:32.062
10) Lauda(McLaren) - 1:32.131

O dia estava ensolarado na Áustria quando os pilotos se preparavam para a sempre difícil largada em Zeltweg. A reta era muito estreita e cercada por guard-rail. Os acidentes eram freqüentes! Elio de Angelis erra sua posição no grid e tem que dar uma marcha ré para ficar no local certo segundos antes da luz verde. E quando ela vem, a Brabhamde Piquet larga muito bem, mas Patrese não tem a mesma sorte e é ultrapassado por Prost na corrida até a primeira curva. Tambay também larga muito mal e é ultrapassado por Arnoux pela esquerda e Rosberg pela direita. O finlandês passou por um pequeno espaço entre a Ferrari e o muro!

Mais atrás, a Williams de Derek Daly larga mal e deixa seu carro bem no meio da pista. Andrea de Cesaris vai ultrapassa pela direita, mas acaba tocando em Daly e é jogado contra... seu companheiro de equipe na Alfa Romeo Bruno Giacomelli! Os três abandonam imediatamente, mas os pilotos que vinham logo atrás são atrasados. Antes da curva 3, Patrese ultrapassa Prost e com isso Piquet tem uma boa diferença sobre seu companheiro de equipe. Tambay consegue se manter em quarto, mas sua sorte acaba no final da primeira volta. Ele atropela detritos deixado pelo acidente na largada e tem o seu pneu traseiro direito furado. O pneu baixa bem no comecinho da volta e o francês teve que dar uma volta inteira com três pneus e acaba levando uma volta dos líderes da corrida. Sorte de Tambay foi que a Ferrari treinou pit-stops durante o warm-up pela manhã. Ainda durante a segunda volta Michele Alboreto sofre um sério acidente ao acertar o guard-rail de traseira. Alboreto sai do seu Tyrrell sem problemas, mas o guard-rail fica destruído.

A Brabham tentaria mais uma vez colocar na prática seu plano de pit-stops planejados. A confiança era tanta que a equipe de Bernie Ecclestone tinha escolhido até a volta em que seria realizado o pit-stop: 26. Patrese parecia mais à vontade no rápidissímo circuito de Zeltweg ultrapassa Piquet na terceira volta. Como fazia parte do plano, as duas Brabhams disparam, com Patrese 1.2s na frente de Piquet na quinta volta. Prost fica muito para trás, mas também não era incomodado por Arnoux. De Angelis era o melhor carro aspirado e vinha 6s atrás do carro da Renault. Seu companheiro de equipe Nigel Mansell fica em sexto, mas logo é ultrapassado pela Toleman de Derek Warwick. Rosberg, que não tinha aproveitado a boa largada, começa uma corrida de recuperação e ultrapassa Mansell, Fabi e Warwick. Rosberg fica próximo de De Angelis, mas não o ameaçava.

Tudo levava a crer que a corrida estava nas mãos dos pilotos turbos, mas não demorou a surgir problemas com os frágeis carros turbinados. A situação permaneceu a mesma até a volta 15, quando Arnoux encostou seu Renault com problemas com o turbo. Duas voltas depois Nelson Piquet entra nos boxes com os pneus em péssimo estado e o brasileiro volta em quarto, logo à frente de Rosberg. Com esses contratempos, De Angelis já aparecia em terceiro atrás de Patrese e Prost. Piquet estava tendo problemas de freio e não conseguia se desvencilhar de Rosberg, que o pressionava.

Na volta 27, o momento que todos esperavam! A equipe Brabham estava toda a postos. Máquina de reabastecimento no lado de fora dos boxes. Mecânicos preparados com Herbir Blash no comando. Patrese entra rapidamente nos boxes (não existia limite de velocidade) e pára. Os mecânicos da Brabham trabalham freneticamente, mas quando tudo estava pronto faltou um pouco de prática, pois foi preciso Blash sinalizar para que Patrese saísse. A parada durou um pouco mais do que o esperado, mas o plano tinha dado certo. Patrese saiu dos pits um pouco à frente de Prost. A primeira parte do plano tinha dado certo! Mas no meio da volta de volta à pista tudo foi por água abaixo... Patrese ficou tempo demais nos boxes e o motor acabou superaquecendo e a BMW tinha mais um motor na sucata. Patrese rodou no próprio óleo numa curva rápida e saiu da pista a alta velocidade, batendo num barranco de traseira, ficando muito próximo do público e de uma loira com um vestido lilás horrível que correu feito uma desvairada quando viu a Brabham de Patrese se aproximando. De qualquer maneira, era o primeiro pit-stop programado desde o Grande Prêmio da Alemanha de 1957 e essa estratégia iria fazer muita diferença nos anos seguintes até os dias atuais.

Para desespero da Brabham, os problemas de Piquet só pioraram e na volta 32 ele entrou nos boxes para abandonar com seu carro já totalmente sem equilíbrio. Isso deixava Prost sozinho na liderança, com uma bela vantagem em cima da Lotus de De Angelis. Mesmo com problemas de câmbio Rosberg paulatinamente se aproximava de De Angelis e o que era uma briga pela segunda posição, se transformaria numa briga pela liderança. Sendo o único carro turbo ainda na briga (Tambay ainda corria, mas uma volta atrás) Prost apenas administrava, mas na volta 49 seu apelido "Stirling Prost" veio a tona. O motor Renault começou a pegar fogo e para o francês só restou o desconsolo de abandonar mais uma vez seu carro num belo gramado de um autódromo de F1. Faltavam apenas cinco voltas.

A essa altura tanto De Angelis como Rosberg sabiam que a primeira vitória de ambos estavam nas mãos deles. Eles eram os únicos na mesma volta e os dois tinham problemas. Rosberg estava lidando com um problema de câmbio e De Angelis estavam economizando combustível, pois tinha forçado muito durante a corrida. O italiano não sabia se dava para chegar ou não. A Lotus não vencia desde 1978 e Rosberg, mesmo na briga pelo campeonato, estava desesperado para vencer. Quando eles cruzaram a última volta, a diferença entre eles era de 1.6s. A diferença caiu para zero quando os dois passaram pela Texaco Schikane. Rosberg estava mais rápido, mas deixou para fazer o ataque final na última curva, a temida Rindtkurve. Mas Rosberg perdeu o impulso necessário ao ficar muito por dentro na entrada da curva e teve que frear para não bater na Lotus. Elio ficou à frente na reta final, mas Keke ainda tentou uma manobra desesperada na linha de chegada e colocou de lado da Lotus.

Numa das mais famosas fotos da história da F1, De Angelis superou Rosberg por apenas 0.050s. Uma das mais apertadas chegadas da história da F1! Elio de Angelis comemorou muito, com os dois braços do lado de fora, enquanto Colin Chapman fazia seu tradicional ritual na vitória dos seus carros: seu boné preto sendo atirado para cima. A F1 respirava aliviada com essa bela corrida e finalmente haveria boas notícias para se contar na segunda-feira pós-GP. Se Elio de Angelis só pôde comemorar (e muito) essa sua vitória durante o ano, Rosberg não tardaria a também comemorar e os seis pontos ajudariam muito nessa festa no final do ano. O detalhe foi que essa foi a última vitória que Colin Chapman comemorou de sua equipe, pois ele morreria no final do ano.

Chegada:
1) De Angelis
2) Rosberg
3) Laffite
4) Tambay
5) Lauda
6) Baldi

Nenhum comentário: