sábado, 4 de agosto de 2007

História: 50 anos do Grande Prêmio da Alemanha de 1957

Algumas corridas ficam marcadas para sempre na memória dos previlegiados que tiveram a oportunidade de assistirem ao vivo a uma atuação de tirar o fôlego de um gênio das pistas. O Grande Prêmio da Alemanha de 1957 era o antepenúltimo daquela temporada marcada por um interessante embate técnico entre três equipes. A Ferrari e seu modelo 801 era um carro arisco e eram calçados com pneus Englebert, que produzia uma borracha muito duro e permitia que seus carros terminassem a corrida com um mesmo jogo de pneus. A Maserati tinha o lendário modelo 250F, um carro mais dócil, e os pneus da italiana Pirelli, que eram mais macios e embora fosse mais rápidos, não permitiam que os pilotos completassem a corrida inteira. E ainda havia a Vanwall, muito motivada pela primeira vitória da equipe no Grande Prêmio da Inglaterra nas mãos de Stirling Moss.

O circuito de Nürburgring e suas 182 (!) curvas era o maior teste para um carro de F1 com seus trechos rápidos com subidas e descidas. O campeonato poderia ser decidido com uma vitória de Fangio, da Maserati e a equipe italiana trouxe um verdadeiro esquadão de elite para Nürburgring. Além de Fangio a Maserati tinha Jean Behra, Harry Schell, Giorgio Scarlatti e Carlos Menditeguy. A Ferrari não ficava atrás e levou cinco carros (Luigi Musso, Peter Collins, Mike Hawthorn e Maurice Trintignant). Durante a Classificação fica claro que a Vanwall não estava adaptada com as subidas e descidas de Nürburgring, enquanto Fangio faz magia para colocar sua Maserati na pole e tentar um plano audacioso.

Grid:
1) Fangio(Maserati) - 9:25.6
2) Hawthorn(Ferrari) - 9:28.4
3) Behra(Maserati) - 9:30.5
4) Collins(Ferrari) - 9:34.7
5) Brooks(Vanwall) - 9:36.1
6) Schell(Maserati) - 9:39.2
7) Moss(Vanwall) - 9:41.2
8) Musso(Ferrari) - 9:43.1
9) Lewis-Evans(Vanwall) - 9:45.0
10) Gregory(Maserati) - 9:51.5

A Maserati propõe a Fangio uma tática de corrida interessante, mas perigosa. Por causa dos pneus Pirelli, a Maserati teria que fazer um pit-stop no meio da corrida. Para ter chances, Fangio teria que ter exatos 29s de vantagem em cima do segundo colocado para sar dos boxes em primeiro. O argentino aceita. Para ter ainda mais velocidade, Fangio larga com meio tanque. Na largada Fangio titubeia e são as Ferraris de Hawthorn e Collins que pulam à frente, seguido pelo argentino e Jean Behra. Fangio precisava andar rápido e ultrapassa as duas Ferraris na terceira volta, sendo perseguido por Collins, que tinha acabado de ultrapassar Hawthorn, mas o ritmo de Fangio era forte demais e Fangio começa sua desesperada procura pelos 29s de vantagem que poderiam lhe dar o quinto título.

Nas onze primeiras voltas Fangio quebrou o recorde do circuito de Nürburgring tão somente que seis vezes e conseguiu uma vantagem de 28s. Fangio entregou os carros aos mecânicos e foi beber um pouco de água, mas quem precisava de água era mesmo os mecânicos, que trabalhavam nervosamente e perderam inacreditáveis 1m18s para fazer todo o pit-stop. Acho que Ross Brawn teria um infarto! Fangio voltou à pista ainda em terceiro e quando completou a décima segunda volta recebeu pelas placas a incômoda notícia de que estava 51s atrás da primeira Ferrari de Collins. Fangio teria que fazer milagre no chamado "Inferno Verde' se quizesse ganhar. O chefe de equipe da Maserati incitou Fangio a tornar esse milagre realidade e disse que só havia uma Ferrari à frente.

Hawthorn ultrapassa Collins e a dobradinha anglo-ferrarista parecia certa, mas Fangio estava num dia anormal. No início da décima terceira volta Fangio vê um dos vários aclives e ao invés de desacelerar, como vinha fazendo, continua de pé embaixo e voa a mais de 240 km/h. Sua Maserati voa por alguns metros! O público de mais de 100.000 pessoas ficam embasbacadas com tamanha determinação de um piloto em vencer uma corrida. Durante a corrida Fangio percebe que pode mudar a trajetória de algumas curvas e assim conseguir segundos preciosos. Volta após voltas o público vibrava quando Fangio passava em frente a eles e quebrava o recorde do circuito mais uma vez. Ele se aproximava das Ferraris a uma taxa impressionante. Hawthorn disse depois da corrida que ele não pode fazer nada, que o ritmo de Fangio era inigualável.

Faltando duas voltas Fangio encontrou dois pontos vermelho à sua frente. Eram duas, não uma, Ferraris que ele teria de ultrapassar. Collins não parecia acreditar quando foi ultrapassado por Fangio e então o argentino foi para cima de Hawthorn. O inglês tentou fechar a porta, mas Fangio deu o xis e cruzou a décima oitava frente de Hawthorn. O inglês ainda tentou seguir Fanigio de perto, mas nada pode fazer e Fangio cruzou a linha de chegada com 3.1s de vantagem em cima da Ferrari de Hawthorn e conseguiu seu quinto título mundial de forma categórica. Ao contrário do que sempre dizia, "O melhor jeito de vencer é andar o mais devagar possível", Fangio quebrou o recorde de Nürburgring em dez oportunidades e sua melhor volta, a vigésima, foi exatos 8.2s mais rápido que a pole que o próprio argentino tinha feito. O segundo piloto mais rápido naquela tarde, Roy Salvadori, marcou um tempo 46.4s mais lento que Fangio! Depois da corrida, após ser carregado em triunfo pelo público, Fangio disse que nunca mais iria dirigir daquela forma, pois sabia que aquilo que fez no dia 4 de Agosto de 1957 tinha passado de todos os limites. Dizem que Fangio passou três dias sem dormir lembrando dessa corrida.

Se não bastasse uma atuação tão marcante, a vitória de número 24 seria a última do argentino e da Maserati. A marca do tridente estava numa crise financeira muito forte e em 1960 faria sua última corrida de F1. Fangio faria mais três corridas de F1 até abandonar a carreira no Grande Prêmio da França de 1958. A corrida em Nürburgring destruiu todos os cálculos da relação homem-máquina ou piloto-carro na F1. Fangio mostrou que um homem pode fazer algo fantástico ao volante de um F1. As marcas de Fangio foram batidas uma a uma, inclusive a do número de títulos mundias por Michael Schumacher, exatamente pelo último piloto que viu ser campeão antes de morrer. Porém, a marca Fangio fez na F1 é inigualável.

Chegada
1) Fangio
2) Hawthorn
3) Collins
4) Musso
5) Moss
6) Behra

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