domingo, 30 de setembro de 2007

Com a mão na taça!

Não há mais do que se reclamar de Lewis Hamilton. Ele não brigava mais seriamente pelas vitórias? O inglesinho venceu duas seguidas na América do Norte. Ele não fazia ultrapassagens? Pergunta para o Raikkonen sobre esse assunto. Só faltava mesmo saber como se comportava Hamilton na chuva. Hoje sabemos muito bem. Hamilton pôs uma mão na taça ao vencer o tumultuado Grande Prêmio do Japão em Fuji e como Alonso bateu na tentativa de alcançar seu companheiro de equipe, Hamilton pode, e deve, entrar para a história na China, cenário do próximo Grande Prêmio da F1 na semana que vem. Fora o fato de ser o primeiro estreante a se tornar campeão mundial, Hamilton baterá o recorde de precocidade que ainda é de... Fernando Alonso!

Por muito pouco a corrida em Fuji não se realizou por causa da chuva torrencial que castigou o autódromo japonês neste domingo, lembrando muito a primeira edição do Grande Prêmio do Japão realizado no mesmo autódromo em 1976. Além disso uma neblina forte piorava ainda mais a visibilidade dos pilotos. Sinceramente, não lembro de ter assistido uma corrida com tanta chuva como a de hoje. E também com tantas voltas de safety-car. Bernd Maylander liderou a corrida de Fuji por quarenta minutos um total de dezoito voltas. Donde aconteceram os primeiros incidentes. Felipe Massa rodou de forma vexaminosa atrás do seu companheiro de equipe, mas antes que crucifiquem Massa, a Ferrari tinha escolhido colocar os pneus intermediários no carro do brasileiro e logo depois desfêz a besteira e trocou tanto os calçados de Massa como o que Raikkonen, também por pressão da direção de prova por causa da quantidade de água na pista. O resultado era as duas Ferraris na última posição, mas o safety-car passou tanto tempo na pista que vários pilotos mudaram suas estratégias. Contudo Massa piorou sua situação quando ultrapassou alguém atrás do safety-car e teria que pagar um drive-through quando a corrida começasse de verdade.

Quando a bandeira verde apareceu, as McLaren sumiram em suas próprias cortinas de água liderados por Hamilton. Mais atrás Heidfeld era tocado por Button ainda na primeira curva e a vantagem de Alonso para o terceiro colocado já era enorme no final da primeira volta valendo. Porém o interessante era justamente o terceiro colocado: Sebastian Vettel. O alemão de 20 anos estava levando com muita categoria seu Toro Rosso ao terceiro posto e não era ameaçado pelo mais experiente Mark Webber em seu Red Bull. As primeiras vítimas da chuva foram Button e Sato, com o bico quebrado dos seus carros. Apesar das condições amplamente desfavoráveis, apenas Wurz estava de fora após bater em Massa na relargada.

Com tantas voltas atrás do safety-car, a McLaren chamou seus pilotos para colocar combustível até o final da prova. Hamilton menteve um ritmo bom, mas Alonso teve muitas dificuldade e levou um toque de Vettel, que tinha feito sua parada e estava ultrapassando Alonso de fato e de direito. Corridaça de Vettel! Porém Hamilton não teve vida fácil e levou um toque infantil de Kubica numa tentativa de ultrapassagem meio louca do polonês, que acabou punido pela manobra logo depois. À medida que os demais pilotos da frente paravam e os tanques da McLaren se esvaziavam, o ritmo de Alonso aumentou. Porém tudo deu errado para o espanhol quando seu carro aquaplanou. Foi uma batida forte e a McLaren de Alonso ficou parada no meio da pista, trazendo mais uma vez o safety-car. Alonso saiu do carro e sem demonstrar muita irritação, saiu da cena do acidente talvez já pensando em 2008.

Com todas as paradas, Massa tinha pulado para quinto e Barrichello para oitavo, mas estava na cara que ambos ainda parariam. Hamilton tinha a faca e o queijo na mão, mas numa pista tão molhada, tudo podia acontecer. Até mesmo Vettel acabar com sua promissora corrida ao acertar Mark Webber na traseira durante o safety-car. O australiano ficou uma fera, pois o segundo lugar estava mais do que seguro e esse seria o melhor resultado da Red Bull, enquanto a Vettel só restou o choro da calamidade cometida. Com isso quem subia para segundo era Kovalainen, com apenas uma parada. Hamilton disparou na seguda relargada, enquanto Raikkonen dava show debaixo de chuva ao fazer uma bela ultrapassagem por fora em cima de Coulthard. Com a esperada parada de Massa, Kimi foi para cima do compatriota Kovalainen e os dois finlandeses deram um show de perícia, pois a chuva tinha aumentado no final.

Hamilton se resguardou até o fim e venceu com 8s de vantagem sobre Kovalainen, que deu o primeiro pódio do ano à Renault e coroou sua evolução na temporada. Apenas com chances matemáticas de ser campeão, Raikkonen pressionou Kova, mas se conformou com a terceira posição. Foi a primeira vez na história da F1 que dois finlandeses compartilharam o pódio. Com o abandono de Heidfeld no final da corrida, Kubica e Massa proporcionaram uma briga sensacional na última volta e por mais que os puristas tenham ficado alarmados com a comparação com a inesquecível batalha entre Villeneuve e Arnoux em Dijon/1979, a disputa entre o polônes e o brasileiro lembrou, sim, a histórica briga no final daquela corrida nos anos 70. Sendo que Massa superou Kubica debaixo de muita chuva. Liuzzi poderia ter diminuído a sensação de decepção da Toro Rosso ao marcar seu primeiro ponto na temporada, mas o italiano levou uma punição e o último ponto do Grande Prêmio do Japão ficou para... Adrian Sutil da Spyker. O jovem alemão não fez uma corrida tão performática como na Bélgica, mas desta vez teve seu talento recompensado com um ponto. Barrichello teve uma ótima chance de marcar pontos numa corrida tão confusa como a de hoje, mas o brasileiro teve que se conformar com o décimo posto, enquanto os donos da casa, a Toyota, tiveram que amargar a última posição de Trulli, atrás até mesmo da Spyker de Sakon Yamamoto. O carro pode ser ruim, mas será o problema é só o carro mesmo?

Com esse triunfo, Hamilton se aproximou bastante do título deste ano e fiquei pensando de como será a cabeça desse inglês se o seu favoritismo se confirmar. A maioria dos filmes de Hollywood sobre esportes sempre tem o mesmo enredo. É o grande campeão sendo desafiado por novato-sensação-herói que veio do nada, batalham amistosamente até que algo acontece entre eles (normalmente é uma mulher que atravessa o caminho de ambos) e o novato começa a se cair de rendimento, porém no final do filme o novato derrota o velho campeão e tudo acaba bem para todo mundo. Contudo o filme normalmente só retrata uma temporada. Hamilton pode ter sua temporada hollywoodiana, mas como será a segunda temporada. Quais as motivações de um garoto negro, quem enfrentou uma barra pesada no começo da carreira numa categoria elitista, foi adotado e logo de cara se tornar o melhor piloto da mundo com apenas 22 anos de idade? Só o futuro dirá, mas para completar esse enredo de sonho, Hamilton terá que ser campeão, mas a forma como ele vem andando, dificilmente Lewis não levantará a taça.

Um comentário:

Anônimo disse...

aahahahhhhh. O final dele foi bem trágico...O título de 2007 acaba sendo dividido entre os dois pilotos que realmente o mereciam. Se o finlandês leva o troféu, Alonso é sem dúvida o grande vencedor da temporada, pelo que teve que enfrentar o ano inteiro. Numa luta feroz dentro da própria equipe, sendo sabotado por aqueles que o deveriam ajudar, Alonso termina o campeonato um ponto atrás do vencedor, e empatado com o piloto queridinho de todos. Um triunfo de quem teve que lutar sozinho. O título é de Kimi, mas a lenda fica com Alonso.