segunda-feira, 10 de setembro de 2007

História: 35 anos do título de Emerson

Após sua vitória em Zeltweg, Emerson Fittipaldi estava com a taça nas mãos e somente uma cataclisma poderia tirar o primeiro título do brasileiro. Emerson Fittipaldi tinha uma vantagem de 25 pontos em cima do vice-líder Denny Hulme, assim o piloto da McLaren precisava vencer todas as três corridas restantes, contando com Monza, e torcer para que Fittipaldi marcasse no máximo dois pontos. A equipe Lotus ainda estava tendo problemas com a justiça italiana pela morte de Jochen Rindt em 1970 e por isso Colin Chapman não inscreveu a John Player Special Lotus para o Grande Prêmio da Itália e sim a World Wide Racing. Apenas Emerson estava inscrito pela Lotus para tentar garantir o título antecipado com um quarto lugar. Porém, as coisas começaram a complicar na quinta-feira quando o caminhão de levava o carro de Emerson capotou nas proximidades de Milão e o Lotus 72 que seria usado pelo brasileiro em Monza estava destruído.

Precavido, Chapman deixou um segundo caminhão, com um Lotus 72 reserva, na fronteira com a Itália com medo de algum problema judicial e rapidamente Emerson mandou que um mecânico pegasse seu carro de passeio e trouxesse o Lotus reserva. O caminhão só chegou na sexta-feira com os primeiros treinos já iniciados. E foi nesse treino que os pilotos tiveram o primeiro contato com o novo circuito de Monza. Tentanto diminuir a incrível velocidade do circuito e aumentar a segurança, os organizadores construíram duas novas chicanes. A primeira chicane era logo após os boxes, onde fica até hoje, e a segunda chicane ficava na velha Curva del Vialone, após a reta oposta. Após uma série de reformas, essa curva seria chamada depois de Variante Ascari. Os pilotos criticaram a estreiteza das chicanes, mas eles teriam que se adaptar a um novo estilo de pilotagem, onde os freios seriam bastante exigidos.

O carro que Emerson tentaria ser campeão no domingo tinha sido construído em 1970 e não repondia aos acertos que Emerson e Chapman introduzia nele e a preocupação era grande nos boxes da Lotus. Correndo em casa a Ferrari voltaria a ter três carros para Ickx, Regazzoni e Mario Andretti. John Surtees resolveu sair de sua aposentadoria e se juntou aos seus pilotos num quarto carro de sua equipe.

Mesmo com as mudanças no traçado, Monza ainda privilegiava os motores V12, sendo assim Ferrari e Matra dominaram os treinos. Stewart, ainda com chances matemáticas de ser tricampeão, conseguia um bom terceiro lugar, o melhor piloto com motor Cosworth V8 e à frente de uma Ferrari. Mesmo com todos os problemas, Emerson ainda conseguiu a sexta posição e largaria ao lado de Hulme, seu adversário mais próximo no campeonato.

Grid:
1) Ickx(Ferrari) - 1:35.65
2) Amon(Matra) - 1:35.69
3) Stewart(Tyrrell) - 1:35.79
4) Regazzoni(Ferrari) - 1:35.83
5) Hulme(McLaren) - 1:35.97
6) Fittipaldi(Lotus) - 1:36.29
7) Andretti(Ferrari) - 1:36.32
8) Revson(McLaren) - 1:36.42
9) Hailwood(Surtees) - 1:36.50
10) Wisell(BRM) - 1:36.68

Se Emerson pensava que todo seu drama estava terminado ele estava redondamente enganado. Pouco antes de entrar no carro, Emerson foi avisado pelo seu mecânico chefe de que foi encontrado uma rachadura no tanque de combustível e que seria preciso retirar todo o combustível e trocar o tanque. O tempo era muito restrito e Fittipaldi chegou a pensar que não largaria. No entanto a Lotus foi rápida e fez todo o serviço a tempo e Emerson foi o último a alinhar no grid, porém não era conhecido se o conserto fora realizado com 100% de confiabilidade.

Os ventos começaram a mudar para Emerson quando Jackie Stewart, o piloto mais temido pelo brasileiro apesar da situação do escocês no campeonato, quebra a transmissão ainda na largada. Os pilotos tem que desviar da Tyrrell lenta durante a largada e Ronnie Peterson tem que fazer um milagre para não encher a traseira de Stewart. Quando encostou seu carro e se encaminhava para os boxes, que estavam logo ali, Stewart acenava para o público italiano levantando os ombros, como ser dissesse "o que posso fazer?". Chris Amon não larga bem e Ickx dispara na frente e para delírio da massa italiana, Clay Regazzoni pula para segunda, formando uma dobradinha ferrarista em casa!

Emerson, ao contrário do que costuma fazer, larga bem e sobe para terceiro e para melhorar sua situação, Hulme não faz o mesmo e cai para sétimo. Enquanto seguia de perto as Ferraris, Emerson via uma boa recuperação de Amon que ultrapassara Mario Andretti para asusmir a quarta posição ainda na segunda volta e no outro giro, Hailwood deixa Andretti para trás. Ao contrário dos anos anteriores, não havia mais a guerra de vácuo e os pilotos se comportavam como nos outros circuitos e assim as posições ficam inalteradas. Na volta 14 Ickx erra e Regazzoni assume a liderança, com as duas Ferraris já se distaciando da Lotus de Emerson. Com Hulme apenas em sexto e Stewart fora, Fittipaldi claramente corre pensando no campeonato.

Três voltas depois de assumir a liderança, Regazzoni se aproxima da chicane da Curva de Pialone trazendo Ickx colado em sua Ferrari, mas para azar do suíço José Carlos Pace acabara de rodar na chicane, e na ansia de se distanciar do companheiro de equipe, Regazzoni acaba tocando de leve na March do brasileiro, quebrando a suspensão traseira da Ferrari. Rega estava fora. Ickx voltava a liderar a corrida com Emerson logo atrás, com Amon e Hailwood não muito distantes. Para sorte de Fittipaldi, ele não precisou se preocupar muito com seus perseguidores. Hailwood perdeu o airbox e perdia rendimento, enquanto o freio de Amon pega fogo e o neozelandês abandona a corrida na volta 38.

Tudo conspirava para que Emerson saísse de Monza com o título no bolso, mas um verdadeiro campeão precisa da vitória para ratificar sua conquista. Mesmo andando próximo a Ickx, Emerson não pressionava intensamente, mas o motor Ferrari do belga começou a falhar na reta oposta e faltando apenas nove voltas Ickx entrou nos boxes imediatamente. Para desespero dos tifosi Ickx estava fora da corrida, pois tinha forçado seu carro em demasia para se manter à frente de Emerson e vencer na casa da Ferrari. Fittipaldi não tinha nada com isso e tinha uma vantagem de 11s em cima de Hailwood quando abriu a última volta.

Na voz do Barão Wilson Fittipaldi nas ondas da Rádio Jovem Pan, o Brasil ouvia emocionado o título da F1 vindo para o Brasil com uma vitória conseguida na base da raça e da sorte. Com apenas 25 anos Emerson quebrava o recorde de Jim Clark e se tornava o piloto mais jovem a se tornar campeão mundial de F1. Emerson foi recebido com muita festa por Colin Chapman, Peter Warr e sua esposa Maria Helena. Com uma enorme bandeira brasileira Emerson comemorou sua quinta vitória na temporada com muito champanhe no alto do pódio. Emerson Fittipaldi foi recebido com muita festa e uma carreata em São Paulo e abria as portas para que o automobilismo brasileiro conquistasse oito títulos mundiais nos próximos vinte anos.

Chegada:
1) Fittipaldi
2) Hailwood
3) Hulme
4) Revson
5) Hill
6) Gethin

Um comentário:

Anônimo disse...

Emerson abriu o caminho e abriu lindamente.
Estreou em Julho de 1970 e, em Setembro de 1972, era o primeiro brasileiro camepão do mundo.
Emerson só fez as temporadas de 71, 72, 73, 74 e 75, pois em 1976 foi para sua própria equipe. O balanço é altamente positivo e a inacreditável vitória de James Hunt, em 1976, com a McLaren que o Emerson acertou, prova que ele seria tri em 1976, se não fosse para a equipe Fittipaldi.
A narração do "barão", pela JovemPan, é épica: o pai narrando o filho ser o primeiro brasileiro campeão do mundo de F1 foi o máximo. Além de ficar histérico de alegria (muito justamente), Wilson Fittipaldi pai abandonou a cabine, deixando a narração por conta de Domingos Piedade, para ir cumprimentar o Emerson, num momento maravilhoso, de improviso e emoção.
A Lotus preta, da John Player Special, é mítica e ficou mítica nas mãos de Emerson.
Parabéns ao Emerson e obrigado por abrir o caminho do que virou a paixão de nós brasileiros, nas décadas seguintes.