domingo, 6 de abril de 2008

Até quando?


Frases como "Felipe calou a boca dos críticos", "Massa dá a volta por cima rumo ao título" e até mesmo o Galvão dizendo que "essa foi para as pessoas que quiseram tirar o Felipe da Ferrari" povoarão sites, jornais e revistas nos dias subseqüentes ao Grande Prêmio do Bahrein, mas a vitória do Massa confirma algo que venho observando desde que o brasileiro chegou na Ferrari: a sua incrível inconstância. Seu triunfo de hoje foi incontestável, sem ter o que pôr, nem o que colocar. Vitórias como a de hoje motivam a torcida e dá muita moral para Massa, mas essas "voltas por cima" não produzem um campeão e se quiser ser conquistar um campeonato, Massa terá que evitar "calar a boca dos críticos" e realizar provas como a de hoje em, pelo menos, 90% da temporada. E os 10% de corridas ruins já foram gastos por Felipe!

A corrida de hoje foi muito parecida com a da Malásia, com as parcas emoções acontecendo no início da prova e grande parte da corrida sendo uma grande procissão de alta velocidade, com raríssimas ultrapassagens ocorrendo na pista. Porém, se houve um diferencial com relação as duas primeiras corridas de 2008, foram os primeiros erros claros de largada. E foram decisivos para a grande moleza vista por Massa hoje. Kubica e, principalmente, Hamilton erraram redondamente na partida e praticamente entregaram a corrida fácil para Massa, que ainda deve estar com cheiro do seu desodorante em seu macacão vermelho. O único momento, e ainda assim muito de leve, de perigo à vitória de Felipe foi a ultrapassagem de Raikkonen em cima de Kubica na segunda volta. Com o finlandês na segunda posição, ficou a promessa de uma disputa entre os pilotos ferraristas, contudo Massa tinha a corridas nas mãos e apenas administrou da primeiro a última volta. Raikkonen, ao contrário de todos os testes em Sakhir neste final de semana, andou no mesmo ritmo de Felipe, mas Kimi foi atrapalhado duas vezes por retardatários, em especial Kazuki Nakajima e teve que se conformar com a segunda posição.

Massa venceu a prova e seus primeiros pontos o colocaram na sexta posição na Classificação, nove pontos de desvantagem para o seu companheiro de equipe Raikkonen, que já pinta como favorito ao título. Hoje não deu para vencer? Chego em segundo então! É assim que um campeão faz em situações como a de Kimi hoje, não precisando de corridas salvadoras. A BMW mostrou que é, sem sombra de dúvidas, a terceira equipe de ponta deste Mundial e a primeira vitória se aproxima a passos largos. Kubica foi o único capaz de andar minimamente próximo das Ferraris durante a prova, mas sua aproximação em cima de Kimi no final da prova foi por pura precaução dos vermelhos, que reduziram a rotação dos motores para chegarem até o fim. Porém, não há como negar a evolução da marca bávara, que assumiu hoje a liderança do Mundial de Construtores pela primeira vez na curta vida da equipe e vê em Robert Kubica um campeão em potencial. Já pensou esse polonês numa Ferrari?

A grande decepção deste final de semana foi, com certeza, Lewis Hamilton. E se o queridinho não vai bem, toda a McLaren afunda junto. Mesmo com a melhor volta da corrida ficando para Heikki Kovalainen no final, o finlandês não conseguia acompanhar o ritmo de Nick Heidfeld após levar uma ultrapassagem até mesmo desmoralizante do alemão da BMW no início da prova. Kova chegou a ser levemente pressionado pela Toyota de Jarno Trulli, mas com uma estratégia diferente acabou disparando no final e chegando, mais uma vez, à frente de Hamilton, empatando com o primeiro piloto da equipe no Campeonato de Pilotos. Após o seu problema na largada, Hamilton se alojou atrás da Renault. "De quem será?" pensou Hamilton. Quando viu que era seu "amado" ex-companheiro de equipe, Hamilton viu tudo vermelho e cometeu a grande barbeiragem do dia, ao acertar a traseira da Renault do espanhol e jogar sua corrida fora. Hamilton fez sua obrigação ao ultrapassar carros como Super Aguri e Force India, mas demorou algumas vezes em efetuar a manobra sobre carros tão lentos e teve que se contentar com uma obscura décima terceira posição, levando voltas de Ferrari e BMW. Essa é a segunda péssima corrida consecutiva do inglês, que não apenas perdeu a liderança do campeonato, como vê a superioridade da Ferrari e chegada forte da BMW. Sem contar Kovalainen mordendo seus tornozelos!

O "resto" da F1 não foi dos mais animados e Jarno Trulli, mais uma vez, liderou a "segunda divisão" com uma boa sexta posição, logo atrás das três equipes grandes (menos Hamilton). A Toyota mostrou grande evolução em comparação ao ano passado e Timo Glock completou sua primeira prova nessa sua reestréia na F1, mas fora dos pontos. Mark Webber fez uma boa largada e se aproveitando de ter largado com a estratégia que lhe desse na telha, fez o seu dever de casa e marcou pontos pela segunda corrida consecutiva, na sétima posição. Bem ao contrário do seu companheiro de equipe. Após uma primeira volta muito confusa por causa do forte vento que trouxe areia para dentro da pista, Coulthard foi uma das vítimas dos vários toques e parou nos boxes. Em ante-penúltimo, Coulthard passou a ser pressionado pela Honda de Jenson Button e numa disputa bem britânica, o escocês se esqueceu de olhar nos retrovisores mais uma vez e acertou o seu quase compatriota, tirando-o da corrida e depois David se arrastou na pista, chegando na penúltima posição. Foi o segundo acidente polêmico de David em apenas três corridas. Passou da hora de Coulthard se aposentar.

E falando em aposentadoria, Barrichello fez uma prova bem discreta hoje e mostrou que a chance que lhe foi dada em Melbourne de marcar pontos pode ter sido única. Prestes a bater o recorde de Riccardo Patrese, Barrichello segue sua sina de não marcar pontos e corre o sério risco de não se aposentar, mas, isso sim, ser aposentado! Após levar a pancada de Hamilton ainda na segunda volta, Alonso parecia ter seu Renault ainda mais desequilibrado e sofreu a prova toda, tendo que brigar com a Toyota de Timo Glock, com alguns lances de emoção, mas após perder a posição para o alemão nos boxes, não conseguiu mais ultrapassar o tedesco e teve que se conformar com a décima posição, sofrendo muita pressão de Barrichello no final, pela primeira vez não marcando pontos em 2008. Algo que deve se repetir bastante vezes, se a Renault continuar assim. Nelsinho Piquet sinalizou problemas de câmbio ainda na volta de apresentação e não dá para identificar se a sua rodada não foi por esse motivo, mas o abandono foi, com certeza, pelo câmbio. Porém, Nelsinho vem andando no ritmo de Alonso nas últimas provas e mostrou evolução, mas o carro que tem não lhe permite muitos sonhos.

Ao contrário dos tempos conseguidos nos treinos livres, a Williams mostra que está longe de ser a terceira e até mesmo a quarta força do campeonato. Rosberg marcou o último pontinho deste Grande Prêmio, mas foi um dos primeiros a parar e teve sorte que a briga entre Glock e Alonso ter entretido os dois, pois ficou longe do Williams. Kuzuki Nakajima vem mostrando que puxou ao pai no pior sentido, pois não mostrou velocidade e atrapalhou Raikkonen e Kubica em oportunidades chaves da corrida e ainda levou uma bela ultrapassagem de Hamilton no final da prova, quando levava uma volta de Heidfeld. Pouca velocidade e pouco jeito. Bourdais fez uma corrida discretíssima e só foi visto quando foi ultrapassado por Piquet no início da prova, enquanto Vettel acabou sendo a única vítima terminal da primeira volta, mas a Toro Rosso terá que estrear logo o seu carro novo, se quiser andar mais à frente. Fisichella fez uma grande largada e andou boa parte da prova à frente de Barrichello, mas foi ultrapassado no primeiro pit-stop e por lá ficou, ficando à frente de Hamilton, Nakajima e cia. Boa corrida de Fisico! Ao contrário de Sutil, único que levou duas voltas na corrida e vem fazendo uma temporada pavorosa! Como parâmetro, o alemão chegou atrás das duas Super Aguri!

Com relação a transmissão da corrida de hoje, claro que não vi a cara do trio Galvão-Reginaldo-Burti, mas deu para sentir um sorrisinho de revanche na cara dos três, principalmente em Galvão e Burti, que em várias oportunidades deram a entender que a belíssima corrida de Felipe era para mim e para todas as pessoas que criticaram Felipe após Sepang. Agora fica a pergunta: Quando Massa errar, terei que passar a mão na cabeça dele? No way! Falando em Massa, bem que ele poderia ter se casado com alguém mais simpática, concordam? Reginaldo Leme lembrou durante o pódio que a sexta vitória de Massa o igualava a Jacky Ickx e Gilles Villeneuve, mas comparar Felipe Massa com essas duas lendas, mesmo com o mesmo número de triunfos, é o mesmo que comparar Jesus Cristo com Genésio!

Com a F1 se aproximando da temporada européia, o campeonato vai ficando tão emocionante como no ano passado, mas se a McLaren não se recuperar nas próximas provas, o campeonato poderá se tornar um show solo da Ferrari, pois ainda não vejo a BMW em condições de enfrentar a scuderia de Maranello por um campeonato. E se o campeonato se tornar um match-race entre Raikkonen e Massa, pela constância de um e o pisca-pisca de outro, sou mais Kimi!

3 comentários:

Anônimo disse...

acho que vc esta de mau humor, mas tem o direito. o problema do coutard não aão os espelhos, para mim ficou claro que, de novo, ele jogou o carro "em cima" para não ser ultrapassado. acho que deveria ser punido. o "mau humor" acima é apenas um comentário sem consequencia. vc continua escrevendo muito bem.abraço do emerson de santos/sp

Arthur Simões disse...

Bela análise JC!!
Concordo plenamente com voce na comparaçao entre Massa e Raikkonen, mas essa vitória pode dar a tranquilidade que Massa precisa para ressuscitar no campeonato por isso acho que as próximas corridasserão as mais importantes para o Massa.
Já pensou se ele ganha na Espanha ou até mesmo na Turquia...

João Carlos Viana disse...

Olá Émerson

Não estou de mau humor de jeito nenhum! É o que venho achando a tempos! Mas se eu queimar a língua, esteja à vontade para puxar minhas orelhas!

Abraços!