quinta-feira, 3 de abril de 2008

Christian

É irônico quando o filho de um dos maiores especialistas em segurança de automóveis se torne um piloto de corridas, mas Christian Danner se tornou mais uma esperança alemã dos anos 80 e mesmo sem ter o brilho do contemporâneo Stefan Bellof, Danner entrou para a história do automobilismo ao se tornar o primeiro campeão do Campeonato Europeu de F3000, mas isso não garantiu uma passagem brilhante na F1. Completando 50 anos no dia de hoje, vamos conhecer um pouco mais da carreira de Danner.

Christian Danner nasceu no dia 4 de abril de 1958 em Munique, Alemanha. Desde cedo o pequeno Christian tinha contato com carros, pois seu pai, o Professor Max Danner, era um dos maiores especialistas em segurança automobilística, foi o pioneiro nos estudos de "crash-tests" e fez várias campanhas para a segurança nas estradas. Por isso que foi irônico ver Christian Danner se tornar um piloto de corridas, mesmo que tardiamente. Ao contrário do habitual, Danner começou a correr em carros de turismo, nos Campeonato Europeu e Alemão de Renault 5 Turbo, aos 19 anos de idade. Nos pequenos carros, Christian era conhecido por ser um piloto muito agressivo e por sofrer alguns acidentes (mais ironia...), mas conseguiu um segundo lugar no seu primeiro Campeonato Alemão, em 1977.

Após passar três anos correndo de Renault, Danner foi convidado por Manfred Cassani para correr em um BMW M1 no Campeonato Alemão do Grupo 4 em 1980. Junto a isso, Danner também participaria de parte do Campeonato da Procar, um certame de apoio à F1 e que teve como campeão em 1979 Nelson Piquet, já com o brasileiro como piloto da Brabham. Fora das pistas, Danner tentava seguir a carreira do pai e estudava Engenharia Mecânica (gostei dele!), mas as boas atuações de Christian chamaram a atenção do chefe da BMW Motorsports, Dieter Stappert. A Alemanha sofria com a falta de talentos e mesmo sem ter qualquer experiência anterior com monopostos, Danner foi colocado na equipe oficial da BMW na F2, com um chassi March. A primeira temporada do alemão na F2 foi muito ruim, principalmente se comparado aos seus companheiros de equipe Thierry Boutsen, Corrado Fabi, Johnny Cecotto e Beppe Gabbiani.

Enquanto corria de F2, Danner também participava do Campeonato Alemão de Turismo com a BMW e quando a montadora deixou a F2 no final de 1983, Danner ficou numa encruzilhada. Ficar fiel à BMW e permanecer como piloto oficial da montadora nos Campeonatos de turismo ou continuar sua empreitada nos monopostos. Danner fez uma temporada boa em 1983 no Campeonato Europeu de F2, conquistando um segundo lugar em Hockenheim e conseguindo uma pole no velho circuito de Nürburgring quebrando o recorde para a F2 naquele circuito, lhe rendendo até um teste com a equipe Brabham-BMW. Talvez querendo um desafio maior na carreira, Danner preferiu se juntar ao chefe de equipe Bob Sparshott e disputou o que seria o último Campeonato Europeu de F2. Ao contrário do seu início de carreira, Danner se mostrava mais constante e se não mostrava uma velocidade estonteante, procurava chegar ao final de todas as corridas. Numa temporada dominada pela equipe oficial da Ralt, com motores Honda, Danner terminou em quinto lugar, num certame vencido pelo neozelandês Mike Thackwell, que derrotou seu companheiro de equipe Roberto Moreno.

No final de 1984, poucos carros participaram do Campeonato de F2 já se preparando para a nova categoria-escola do automobilismo mundial. A F3000 permitiria que os jovens pilotos da época pudessem ter contato com antigos carros de F1 e muitas equipes da F2 migraram para a nova categoria, como foi o caso da equipe de Bob Sparshott e Christian Danner. Mesmo tendo sido campeão no ano anterior da F2, Thackwell não tinha impressionado em sua passagem na F1 no início dos anos 80, quando se tornou o piloto mais jovem a disputar uma corrida na categoria, recorde até hoje não batido, e também participaria do novo campeonato, ainda como primeiro piloto da equipe Ralt. Thackwell era o favorito e realmente era o mais rápido naquele ano, inclusive vencendo a corrida inaugural em Silverstone, mas Danner usou sua constância para contrapor à Thackwell. Enquanto o neozelandês ora ganhava, ora quebrava, Danner fazia o possível para chegar nos pontos e no final do campeonato tinha apenas uma vitória em Pau, na França. E era o vice-líder, mas numa arrancada surpreendente, Danner consegue duas vitórias em Zandvoort e Donington Park e se torna o primeiro campeão da F3000.

O bom desempenho de Danner já tinha chamado a atenção dos chefes de equipe da F1 e o alemão fez sua estréia na categoria máxima do automobilismo ainda em 1985, pela equipe Zakspeed, uma escuderia totalmente tedesca. Mesmo com o título de Campeão da F3000 nas mãos, Danner só conseguiu um contrato na pequena equipe Osella para 1986. Após largar nas últimas posições em todas as corridas que participou pela equipe italiana e ter abandonado em todas, Danner recebeu o convite para substituir Marc Surer na equipe Arrows, que estava machucado após sofrer um acidente num rally. A Arrows não podia ser uma equipe de ponta, mas era bem melhor do que a Osella. Danner completa sua primeira prova em Paul Ricard e marca seu primeiro ponto na F1 no Grande Prêmio da Áustria, numa corrida que houve vários abandonos e Danner chegou três voltas atrás do vencedor Prost.

Christian Danner fazia um trabalho razoável na Arrows, mas não restavam dúvidas que o alemão vinha sendo superado constantemente pelo seu antigo companheiro de equipe Thierry Boutsen e no final de 1986 Danner foi dispensado pela equipe inglesa. Porém, Danner tinha sua nacionalidade com trunfo e voltou a correr pela Zakspeed em 1987, desta vez em tempo integral, ao lado de Martin Brundle. O carro não era veloz, mas Danner ainda consegue extrair o máximo possível do carro, conseguindo dois sétimos lugares em San Marino e na Austrália. Um pouco desiludido com a F1, Danner volta às origens e retorna ao Campeonato Alemão de turimo em 1988, enquanto testava os carros de F1 da Zakspeed. Durante o ano Danner testou o carro da Eurobrun, na tentativa da equipe em acertar o seu carro, mas nem Danner foi capaz de melhorar a carroça.

Porém, o nível de informação que Danner cedia aos engenheiros se mostrava útil para os engenheiros e em 1989 Günther Schmid trouxe Christian de volta à F1 pela sua nova equipe, a Rial. O carro era extremamente ruim e Danner não conseguiu classificar o carro para as duas primeiras provas do ano, mas o alemão conseguiu colocar seu Rial no grid para o Grande Prêmio dos Estados Unidos. Era a primeira corrida em Phoenix e o calor do deserto fez muitos estragos naquele dia, enquanto Danner apenas levava seu carro na manha, tentando se aproveitar das quebras alheias. E elas foram acontecendo aos montes, a ponto de Danner se ver na quarta posição e conseguindo o melhor resultado de sua carreira! Após conseguir um bom oitavo lugar no confuso Grande Prêmio do Canadá, Danner não classificou seu carro para mais nenhuma corrida e antes de terminar a temporada ficou claro para o alemão que estava numa cadeira-elétrica e abandonou o barco. E também a F1, com um cartel de 36 Grandes Prêmios e apenas quatro pontos.

Com certeza isso foi pouco para um piloto que tinha sido campeão de uma categoria-escola importante como a F3000 e, no futuro, o insucesso de Danner foi um dos álibis para se acabar com a categoria no final de 2004. Após sua passagem na F1, Danner se mudou para o Japão e disputou o competitivo Campeonato Japonês de F3000 pela equipe Leyton House e mesmo sendo um piloto assalariado, o alemão foi apenas décimo quarto no campeonato. Depois disso, Danner passou a ser um andarilho das corridas. Em 1991 ele voltou à BMW e foi piloto oficial da marca no Campeonato Alemão e, ainda ao lado da montadora, ganhou as 24h de Spa e Nürburgring em 1992. E foi nesse ano que Danner fez algumas corridas na F-Indy, participando de algumas provas. Em 1995 Danner é chamado pela Alfa Romeo para disputar o DTM e o alemão não faz feio, terminando o fortíssimo campeonato com duas vitórias em Helsinque e Norisring, ambos circuitos de rua. Em 1996 Christian Danner funda uma equipe na CART, em parceria com Andreas Leberle, mas a Project Indy se torna um fracasso, mesmo com Danner participando de algumas provas, inclusive marcando pontos, e ter revelado o inexpressivo Arnd Meier. Desde 2000 Danner passou a comentar F1 pelo canal de TV RTL, enquanto participava de alguns projetos de segurança da antiga companhia de seu pai, a Allianz. Em 2005 Danner fez algumas provas pelo Campeonato Italiano de F3000 e também pela malfada GP Masters Series. Hoje devidamente aposentado, Danner deve pensar que, pelos resultados que conquistou, merecesse um destino melhor na F1.

Parabéns!
Christian Danner

2 comentários:

Arthur Simões disse...

Ótimo texto JC!!!!!
Muito bom mesmo!!
Danner era um dos pilotos que gostaria de conhecer mais.

Valeu!!!Escreva sempre!!!

Speeder76 disse...

Excelente texto! Desta vez não te segui e escrevi sobre outro piloto que nasceu no mesmo dia: Richard Attwood. Tem mais coisas do que Danner (ganhou as 24 Horas de Le Mans), mas a sua história tembém merece ser contada!