Após duas corridas, a F1 iniciava a temporada européia em um novo autódromo. Mas nem tão novo assim. Donington Park é um dos circuitos mais velhos do mundo e recebeu várias corridas do pré-guerra, mas nunca foi palco de um Grande Prêmio de F1, algo que já vinha acontecendo com Silvestone, Brans Hatch e até mesmo Aintree. O empresário local Tom Wheatcroft lutou muito para que Donigton, e seu famoso museu ao lado de um aeroporto, recebesse a F1 e finalmente conseguiu o seu sonho em 1993, com o chamado Grande Prêmio da Europa.
Era a famosa temporada do "carro do outro planeta", mas parecia que o outro planeta não tinha muita água, pois só funcionava em piso seco. A Criptonita de Alain Prost e seu Williams FW14 era Ayrton Senna e o brasileiro já tinha feito um belo estrago no seu Grande Prêmio caseiro, ao derrotar o francês mesmo com Prost tendo em mãos o praticamente insuperável Williams. Porém, a chuva foi a causa desse pequeno sobressalto da caminhada rumo ao tetracampeonato de Prost. A exibição de Senna em Interlagos já tinha esgotado o seu estoque de genialidade, pensavam alguns. Ledo engano. Logo na sexta-feira, muita chuva caiu na Inglaterra e o box da McLaren começou a ser animar. Até mesmo Michael Andretti, já uma grande decepção, tinha andado bem na chuva, mas o sol veio forte no sábado e o poderio da Williams pôs seus carros na primeira fila, com o atrevido Michael Schumacher ocupando a terceira posição em seu novo Benetton. Senna teve que se conformar com a quarta posição e rezava por algo que mexesse na relação de forças no domingo para ter alguma chance.
Grid:
1) Prost(Williams) - 1:10.458
2) Hill(Williams) - 1:10.762
3) Schumacher(Benetton) - 1:12.008
4) Senna(McLaren) - 1:12.107
5) Wendlinger(Sauber) - 1:12.738
6) Andretti(McLaren) - 1:12.739
7) Lehto(Sauber) - 1:12.763
8) Berger(Ferrari) - 1:12.862
9) Alesi(Ferrari) - 1:12.980
10) Patrese(Benetton) - 1:12.982
Para alegria de Senna e de todo o Brasil, o domingo dia 11 de abril de 1993 estava tão chuvoso como na sexta-feira. Era a chance que o piloto da McLaren precisava. Porém, a chuva poderia ser boa para Senna, mas ele teria que ter cuidado pois a pista estava escorregadia, e normalmente mais perigosa, e o brasileiro teria que enfrentar rivais perigosos à sua frente. Na largada, Senna tentou ir para cima de Schumacher, mas foi o alemão que veio para cima da McLaren e Senna teve que ir para à direita, tamanha a fechada que levou do piloto da Benetton. O que Schumacher não sabia era o quanto Senna estava inspirado naquele dia. Senna foi para o outro lado e ainda teve tempo para colocar por dentro em cima do alemão. Os dois gênios fizeram a primeira curva lado a lado, mas Senna levou a melhor. Era a primeira vítima do brasileiro em uma corrida histórica.
Com a briga entre Senna e Schumacher, Karl Wendlinger, que tinha largada em quinto, pulou para terceiro, enquanto as Williams lideravam à frente. Senna não se intima com a famosa descida de Donington Park e realiza uma espetacular ultrapassagem sobre o austríaco, colocando pela lado de fora da Sauber de Wendlinger na curva Craner e completando a manobra na freada da curva Old Hairpin. Agora era a vez das temíveis Williams, mas nem tão temíveis embaixo de chuva. A primeira adversária azul era o inofensivo Damon Hill. Só bastaram duas curvas para que Senna realizasse uma ultrapassagem tranqüila sobre o inglês. Hill, apenas em sua primeira temporada completa como piloto titular, simplesmente não quis briga com alguém tão forte como Senna, mesmo com Damon tendo em mãos um poderoso Williams. Senna parecia ter uma turbina em seu McLaren e de forma inacreditável se aproximou da Williams de Prost. Ninguém, seja nas molhadas arquibancadas de Donington, seja na frente da TV, conseguia crer no quem viam. A pobre McLaren, com seu pequeno motor Ford V8, estava alcançando a poderosa Williams do grande Alain Prost. Apesar do francês não ser um ótimo piloto da chuva, ninguém poderia crer numa ultrapassagem na primeira volta. "Senna vai tentar na volta seguinte," pensaram alguns. Porém, o diferencial daquela pequena McLaren era a peça de capacete amarelo entre o volante e o banco e Senna, ainda na primeira volta, mergulhou por dentro no hairpin Melbourne e assumiu a liderança da corrida.
Tudo isso já bastava para que essa prova fosse histórica. Uma apresentação como essa não se vê todos os dias e as várias coisas que aconteceram naquela primeira volta foram deixadas de lado, como o novo acidente de Michael Andretti, numa tentativa atrapalhada de ultrapassagem sobre Wendlingher, e o incrível pulo que o então novato Rubens Barrichello deu na Classificação, subindo de décimo segundo para quarto! Porém, todos estavam de olho em Senna. Ele agüentaria as Williams fuçando no seu cangote? E se parasse de chover? Senna já tinha aberto uma boa diferença quando a chuva parou e o brasileiro foi aos boxes colocar pneus de tempo seco. Prost ficou mais uma volta e foi aos boxes. Foi a sua desgraça! A chuva voltou no momento em que o francês voltava à pista e sua inaptidão no piso molhado ficou claro quando ele perdeu muito tempo. Muitos pilotos voltaram aos boxes, menos... Senna! Demonstrando que ele estava "naqueles" dias, o piloto da McLaren ficou mais um tempo na pista e, mesmo com pneus slicks, marcava os mesmos tempos da turma que já tinha colocado pneus biscoito.
Porém, aquela corrida não seria normal e a chuva parava novamente. Nova dúvida em parar ou não. Desta vez o box da McLaren não faz um bom pit-stop e Senna perde a dianteira para Prost. Mas eis que... chove novamente! A Williams entra em pane e chama seus dois pilotos para o box, enquanto Senna continuava dando show e permanecia na pista com pneus slicks. A pista agora secava novamente e a escolha de Senna parecia óbvia demais para as "cabeças pensantes" da Williams, enquanto Hill e Prost voltavam aos boxes. Porém, o francês tem problemas em seu pit e perde muito tempo, ficando atrás da Jordan de Rubens Barrichello, que surpreendia em seu terceiro Grande Prêmio da carreira. A corrida caminhava para o seu fim quando Senna resolve entrar nos boxes na volta 57. Todos ficam perguntando o motivo, pois o clima já tinha parado de mudar. O mais estranho foi ver Senna passando direto na frente dos seus assustados mecânicos. A resposta viria na volta seguinte. Como não havia limite de velocidade nos boxes, Senna tinha calculado que poderia fazer a melhor volta da prova passando por dentro dos boxes, sem ter que fazer a freada da Redgate. Foi a única vez na F1 que a melhor volta foi completada pelos boxes. Quando tudo levava a crer que a festa brasileira seria completa com um pódio de Barrichello, o piloto da Jordan aparece parado faltando seis voltas para o fim. A sua bomba de combustível tinha quebrado, mas há quem afirme que o real problema foi um erro de cálculo da Jordan, que não tinha colocado combustível suficiente. Se ainda restavam dúvidas da capacidade de Ayrton Senna da Silva, elas se dissiparam naquele chuvoso domingo de abril. O brasileiro fez sua obra-prima e tinha entrado de vez na história da F1!
Chegada:
1) Senna
2) Hill
3) Prost
4) Herbert
5) Patrese
6) Barbazza
2 comentários:
Melhor volta passando pelo box...
Senna que era "do outro mundo".
Abraço JC!!
Eu me lembro bem desta corrida... Só um milagre faria Senna ganhar, e o milagre veio em forma de temporal, de ruindade do francês na chuva, da ruindade ao quadrado do Hill em qualquer situação...e Claro pelo talento do Senna que é inegavel... A ultrapassagem em Hill é daquelas de humilhar um sujeito.
Se Hill tivesse colhoões e vergonha na cara.. pediria pra sair e nunca mais voltaria a pilotar um carro. Ficou, foi teimoso e acabou campeão... Porem a marca do S ficou estampada no seu macacão como lembrança da manobra perfeita que tomou.
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