sábado, 15 de março de 2008

História: 15 anos do Grande Prêmio da África do Sul de 1993

A Williams realmente não tinha sorte com pilotos campeões. Depois de Alan Jones e Nelson Piquet, foi a vez de Nigel Mansell deixar a equipe após conquistar o que seria seu único título na F1. Na verdade, Mansell tinha ficado bastante irritado com a negociação entre a Williams e Alain Prost, que planejava voltar à F1 após um ano sabático. Ayrton Senna fez de tudo para que não visse seu rival e desafeto no melhor cockpit da F1 e se ofereceu para correr de graça à Frank Williams, que recusou e trouxe Prost para sua equipe, com a benção da Renault, que reatava com o francês após dez anos de inimizade. Nigel Mansell não queria compartilhar a equipe novamente com Prost e se mandou para a CART, na equipe Newman-Hass. Como a Williams tinha dispensado o eterno segundo piloto Riccardo Patrese, Tio Frank teve que promover seu piloto de testes Damon Hill.

Senna chegou a pensar em anunciar a aposentadoria no final de 1992 por causa da frustração de não ter que como lutar contra o poderio da Williams-Renault e nem poder entrar na equipe que primeiro lhe deu oportunidade na F1. Mesmo descontente na McLaren, Senna resolve fazer um contrato (milionário) com a equipe de Ron Dennis na base do corrida-a-corrida. As quintas-feiras de Grande Prêmio sempre foram de suspense, pois não se sabia ao certo se Senna iria correr ou não. Para o seu lugar, na eventualidade de Senna não correr, a McLaren tinha trazido da Lotus o finlandês Mika Hakkinen, que tinha andado muito bem na agora pequena equipe. Seria uma parceria duradoura. Porém, a novidade na equipe era a chegada de Michael Andretti, que era um dos protagonistas da CART e a chegada do americano era uma espécie de resposta a saída de Mansell para a antiga equipe de Andretti nos Estados Unidos.

A Benetton se estebelecia como terceira força do mundial, liderado por Michael Schumacher. Briatore tinha se armado ao conseguir um contrato de exclusividade com a Ford e deixava a McLaren sempre com um motor de segunda mão. Patrese seria parceiro do alemão e continuaria sua sina como segundo piloto. A Ferrari demitira John Barnard e trouxe de volta Harvey Postlethwaite para fazer um modelo mais convencional. Na eterna tentativa de sair da crise, a Ferrari também trazia de volta Gerhard Berger para ficar ao lado de Jean Alesi. A Jordan perdia o motor Yamaha, mas trazia o novato sensação da época: Rubens Barrichello. Outra que voltava ao mundo da F1 era a Mercedes, com sua equipe de fábrica no Mundial de Esporte-Protótipo, a Sauber. A equipe chefiada por Peter Sauber faria sua estréia e a montadora alemão retornava aos Grandes Prêmios após quase quarenta anos de reclusão.

Como imaginado, Prost consegue sua vigésima primeira pole na carreira, mas o francês não contava com a magia de Senna em uma única volta e por muito pouco não perdeu a dianteira do grid. Schumacher confirmava que era a terceira força no mundial e superava Damon Hill. O primeiro piloto da Sauber, J.J. Lehto, surpreendia ao colocar a equipe novata em sexto, logo atrás da Ferrari de Alesi. Michael Andretti ficava 3s atrás de Senna, enquanto Barrichello compartilhava a sétima fila com seu antigo rival do kart, Christian Fittipaldi.

Grid:
1) Prost(Williams) - 1:15.696
2) Senna(McLaren) - 1:15.784
3) Schumacher(Benetton) - 1:17.261
4) Hill(Williams) - 1:17.592
5) Alesi(Ferrari) - 1:18.234
6) Lehto(Sauber) - 1:18.664
7) Patrese(Williams) - 1:18.676
8) Blundell(Ligier) - 1:18.687
9) Andretti(McLaren) - 1:18.786
10) Wendlinger(Sauber) - 1:18.950

O dia 14 de março de 1993 estava extremamento nublado e havia uma previsão de chuva para qualquer momento. Naquele ano os pneus também tinha sido modificados, ficando mais estreitos e se chovesse, isso poderia complicar a vida dos pilotos. Outro ponto a se observar era a largada de Michael Andretti. O americano estava acostumado a largar lançado e pela primeira vez em anos experimentaria largara parado. Porém, quem parecia que largava parado era Prost. Senna ultrapassou o francês ainda antes de colocarem a segunda marcha e Damon Hill se inspirou no brasileiro e também deixou o seu companheiro de equipe para trás. Mais atrás, Andretti mostrava sua pouca experiência em largadas paradas e ficou empacado no grid.
Na primeira curva, Hill estava colado em Senna e em suas primeiras corridas estava disputando a ponta com um dos melhores pilotos de todos os tempos. Isso foi demais para o inglês, que rodou na frente de todo o pelotão ainda na segunda curva. Todos evitaram a Williams atravessada, mas Prost perdeu tempo e foi ultrapassado pela Benetton de Schumacher. Ao final da primeira volta, o trio principal já se destacava sobre os demais, liderados surpreendentemente pelas Saubers de Lehto e Wendlinger.

Aos poucos, uma briga histórica estava se formando. Senna não se desgrudava de Schumacher e Prost observava tudo a distância, esperando o que poderia acontecer. Eram quatorze títulos mundias numa tríplice briga! No final da volta 12, Prost saiu da última curva colado na traseira de Schumacher e numa ultrapassagem auspiciosa por fora, deixou o alemão para trás. Seu objetivo era agora Senna. Uma briga que não acontecia a mais de um ano e todos estavam com saudades de ver. Mordido por ter sido preterido por Prost na Williams, Senna joga duro com o francês e fechava a porta em todas as oportunidades possíveis. Nos rápidos esses após a reta dos boxes, os dois fizeram as duas curvas lado a lado, prendendo a respiração de todos. Mas Senna teve vantagem. Sabedor do histórico dos dois, Schumacher observava de perto, talvez esperando por mais um toque entre eles. Mas na volta 23, no final da reta dos boxes, Prost finalmente fez a ultrapassagem e Schumacher repetiu a manobra algumas curvas depois.

Mais atrás, Hill abandonava ao ser atingido por um destrambelhado Alex Zanardi, que tentou uma ultrapassagem totalmente impossível, acabando com a prova dos dois. Ao final da volta 24, Schumacher e Senna foram aos boxes fazer os seus pit-stops e foi aí que a McLaren mostrou que a experiência ainda fazia diferença, com a equipe de Ron Dennis mandando Senna à pista na frente do alemão. E com uma boa diferença! Foi o início de outra briga fantástica entre Senna e Schumacher. Uma briga que muita gente queria ter visto mais! Na volta 40, o piloto da Benetton forçou uma ultrapassagem quando os dois gênios se aproximavam de retardatários. Schumacher estava bem longe de Senna, mas era uma ultrapassagem possível, mesmo que difícil. O alemão colocou por dentro, mas Senna simplesmente ignorou a presença de Schumacher e o toque foi inevitável. Michael ainda tentou ir pela zebra interna, mas Senna bateu sua roda traseira direita na dianteira esquerda do alemão, fazendo o piloto da Benetton rodar. Schumacher chegou aos boxes reclamando muito e gesticulando bastante com seus patrões Flavio Briatore e Tom Walkimshaw. Para piorar, o terceiro colocado Patrese roda poucas voltas depois e deixa a Benetton sem representantes na corrida africana.

Enquanto tudo isso acontecia, Prost liderava fácil e Senna passava a correr sozinho em segundo. Blundell fazia uma corrida inteligente com o seu Ligier com os potentes motores Renault e já aparecia em terceiro, enquanto Christian Fittipaldi surpreendia ao aparecer numa excepcional quarta posição em sua humilde Minardi. À frente até mesmo da Ferrari de Berger! Rubinho já tinha abandonado em sua primeira corrida com o câmbio quebrado. A corrida transcorria sem grandes incidentes, mas havia um problema. Os céus ameaçadores estavam cada vez mais próximos do circuito de Kyalami e de longe se via a chuva se aproximando. E ela finalmente chegou faltando menos de dez voltas. Com sua conhecida pouca habilidade na chuva, Prost pediu que a Williams preparasse os pneus de chuva. Senna via uma chance no final do túnel. Porém, a chuva veio tarde demais e Prost vencia sua primeira corrida desde 1990, com Senna mais de um minuto atrás. Eles eram os únicos na mesma volta. Mark Blundell completou o pódio e Christian tinha o seu melhor resultado na F1. Foi uma corrida inesquecível, pois juntou a experiência de Prost, a exuberância de Senna e a agressividade juvenil de Schumacher. Três gênios disputando uma corrida palmo a palmo. Bons tempos aqueles!

Chegada:
1) Prost
2) Senna
3) Blundell
4) Fittipaldi
5) Lehto
6) Berger

3 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto!

Speeder76 disse...

De facto, para mim foi um Grande Prémio inesquecível, aquele. Ver três monstros sagrados agarrados uns aos outros, demonstrou uma coisa: que o título do Prost não ia ser um passeio no parque...

Arthur Simões disse...

Muito bom texto JC !!!!