domingo, 16 de março de 2008

O melhor dos sobreviventes

Como toda estréia de regulamento, a F1 viu uma corrida confusa nesta madrugada. Com o propalado fim dos auxílios eletrônicos, houve muita briga, quebras e acidentes numa corrida maluca em que apenas sete carros receberam a bandeirada, sendo que um foi desclassificados após a prova, mas quem não teve do que reclamar foi Lewis Hamilton. O inglês fez uma corrida irretocável e mostrou que o MP4/23 é, sim, o melhor carro atualmente na F1. Outros que também não tiveram do que reclamar foram nós, que assistimos uma corrida cheia de alternativas e com emoção até o final. As ultrapassagens (ou até mesmo as tentativas) ocorreram em vários pontos ao longo do pelotão e ao contrário do que normalmente acontece, muitas quebras marcaram a quente corrida australiano. De cabeça, a última vez em que tão poucos carros terminaram a prova foi no Grande Prêmio dos Estados Unidos de 2004, quando apenas oito carros viram a quadriculada e até a Minardi do húngaro Zsolt Baumgartner marcou um pontinho, último da simpática escuderia italiana.

Havia muita expectativa pela largada com o fim do controle de tração, mas para frustração dos puristas, houve pouca fumaça saindo dos pneus dos carros e poucos pilotos erraram na hora de manusear a embreagem na partida. Felipe Massa fez uma largada agressiva e partiu para cima a segunda McLaren de Heikki Kovalainen, mas o brasileiro se esqueceu que não havia mais controle de tração e deu a típica rodada de quem acelerou cedo demais na primeira curva e acabou rodado na frente do pelotão, que mais atrás já tinha confusão, envolvendo Giancarlo Fisichella, Sebastian Vettel e Jenson Button. Na caótica primeira volta, Mark Webber tentava ganhar posições e acabou sendo atingido pela Super Aguri de Anthony Davidson, destruindo o sonho de ambos em continuar na prova. Safety-car na pista e cinco abandonos (Vettel, Button, Webber, Fisichella e Davidson).

Na relargada, Hamilton imprime um ritmo alucinante e praticamente ganha a corrida no primeiro stint, em que Kubica, mesmo mais leve, levou em média 1s por volta do piloto da McLaren. Mais atrás, as Ferraris tentavam descontar o prejuízo, com Raikkonen brigando com Barrichello e Massa vindo de trás. E foi assim que o safety-car apareceu mais uma vez, numa tentativa de defesa de posição de David Coulthard totalmente equivocada, que fez o escocês decolar após bater rodas com Massa, acabando com um fim de semana promissor da Red Bull. Foi então que houve o duplo abandono brasileiro. Massa e Nelsinho vinha andando logo atrás de Barrichello quando a Ferrari e a Renault apareceram com seus respectivos pilotos abandonando o cockpit. Era o início do calvário da Ferrari e também de Nelsinho, que teria que explicar um ritmo de corrida medonho até abandonar!

Mais à frente, a McLaren parecia que partiria para uma dobradinha consagradora, seguida pelas BMWs, Raikkonen e Nico Rosberg. Raikkonen já se aproximava do seu compatriota para iniciar uma animada briga finlandesa, mas o piloto da Ferrari pôs tudo a perder ao sair reto numa tentativa frustrada de ultrapassagem. Logo depois, Kimi se aproximou de Timo Glock na briga pela décima posição e errou novamente, caindo para as profundezas da Classificação. A corrida seguia em boa ordem até Glock sofrer o acidente mais sério do dia, com o alemão saindo totalmente grogue do seu cockpit, apesar do carro não ter acertado os muros australianas, apenas se desfazendo após bater forte num ressalto de grama. A equipe nipônica mostrou boa velocidade enquanto esteve na pista, com Jarno Trulli ficando um bom tempo à frente de Heidfeld até abandonar correndo seu carro nos boxes. A esperança é a última que morre para a maior fabricantes de carros no mundo!

Com o safety-car de volta à pista no seu final, muitos pilotos aproveitaram para fazer suas últimas paradas, inclusive Kovalainen, que tinha marcado a volta mais rápida da corrida em suas voltas antes de ir ao pit. Isso prejudicou bastante o finlandês. Quando o belíssimo Safety-Car da Mercedes estava voltando ao boxe, Kazuki Nakajima honrou o nome da família ao fazer a pataquada do dia ao encher a traseira de Robert Kubica e acabar com a boa corrida do polonês. Kubica poderá ser o protagonista desta temporada, mas a má sorte tem que abandoná-lo primeiro. Na relargada, Kovalainen tentou ultrapassar seu compatriota e a manobra deu certo, mas Alonso se aproveitou e ultrapassou os dois finlandeses. Então Raikkonen começou a perder rendimento até abandonar nas últimas voltas. Para quem era a grande favorita para esse início de temporada, a Ferrari mostrou que precisa melhorar urgentemente a confiabilidade do seu carro e conseguir mais velocidade, pois sua rival McLaren tem isso de sobra.

Então uma briga animada envolvendo Alonso e Kovalainen fez com que ambos se aproximassem do melhor novato do dia: Sebastien Bourdais. O francês fez uma corrida madura e segura, digna de um tetracampeão da Champ Car e vinha numa excepcional quarta posição sem ser muito ameaçado por Fernando Alonso, que nessa altura se preocupava mais com os ataques de Kovalainen. Por isso, foi uma pena quando o seu motor quebrou no finalzinho da prova, fazendo com que nenhum motor Ferrari visse a quadriculada, já que a Force India também tinha perdido seu segundo carro, Adrian Sutil, por problemas mecânicos ainda no início da prova. Um começo nada animador para os lados de Maranello. Na penúltima volta, Kovalainen fez uma bela ultrapassagem sobre Alonso para alegria de Ron Dennis, que vibrou pela manobra e por ter deixado o seu desafeto comendo mosca, mas Kovalainen perdeu rendimento na reta, após os carros cruzarem a última volta e o espanhol retomou a quarta posição até o fim.

Por causa da briga envolvendo o seu companheiro de equipe, a transmissão da FOM (por sinal, péssima!) quase perdeu a quadriculada sendo mostrada para Lewis Hamilton, senhor absoluto deste Grande Prêmio e já se credenciando como um dos favoritos ao título deste ano. O inglês foi muito rápido quando precisava e controlou a corrida ao seu bel-prazer após as entradas do Safety-Car, mostrando que o piloto da McLaren não foi afetado pela perda do título do ano passado. Com o segundo lugar, Heidfeld mostrou que a BMW tem estofo para enfrentar McLaren e Ferrari, enquanto o alemão demonstrou que pode perder para Kubica em velocidade pura, mas em ritmo de corrida ainda é superior ao companheiro de equipe.

A Williams parecia que nunca tinha subido ao pódio pela festa mostrada com o terceiro lugar de Nico Rosberg. O alemão vem evoluindo a olhos vistos e esse pódio pode ser o passaporte definitivo para que o piloto da Williams sonhe com vôos maiores, mas é claro que a equipe terá que ajudá-lo a fazer um bom trabalho de desenvolvimento e até em outros detalhes, como no seu primeiro pit-stop, quando foi Nico superado por Nick Heidfeld, que fazia seu parada ao mesmo tempo. Ou seja, o trabalho da BMW foi mais rápido que a Williams. Mesmo tendo vários incidentes, Nakajima marcou seus três primeiros pontos na F1, se igualando ao seu pai, que também marcou seus primeiros pontos logo em seu segunda corrida.

Alonso fez uma prova tática, pois sabia das limitações do seu Renault. O espanhol teve que suar sangue para conseguir comemorar a quarta posição, após brigar com pilotos melhores equipados e ter largado muito pesado. Isso depôs contra Nelsinho, pois se Alonso teve condições de levar seu carro a brigar com a McLaren de Kovalainen, Piquet não podia ser ultrapassado pela Super Aguri de Takuma Sato e, ferindo a honra da família, ser ultrapassado com categoria por Nakajima. Kovalainen foi um dos injustiçados deste domingo e merecia uma melhor sorte, marcando até mesmo a volta mais rápida corrida, mas o último Safety-Car estragou os sonhos do finlandês, porém Heikki mostrou agressividade na disputa contra pilotos Campeões do Mundo, como na batalha contra Raikkonen e Alonso. Kovalainen poderá ser uma surpresa neste campeonato.

Rubens Barrichello fez sua melhor prova em muitos anos, mas estava na cara que seria desclassificado, pois tudo que vinha dando certo na pista, deu fatalmente errado no último pit-stop do brasileiro. Primeiro, Rubinho atropelou três mecânicos quando o "homem do pirulito" se atrapalhou e liberou o brasileiro antes da hora. Depois Barrichello deve ter se preocupado tanto com os seus mecânicos, que se esqueceu de olhar para o sinal vermelho, que estava bem grande na sua cara. Como acontecera ano passado com Massa, isso resultou na desclassificação do piloto da Honda, que podia ter conseguido seus primeiros pontos após um ano de seca. Não resta dúvidas que o piloto também tem culpa no cartório na bandeira preta recebida, mas a grande contratação da Honda, Ross Brawn, já tinha feito a besteira de não lembrado Barrichello de não ter entrado nos boxes quando o Safety-Car estava na pista e ainda se esqueceu de lembrar seu piloto do sinal vermelho no final dos boxes. Ou seja, quando a Honda vai bem dentro da pista, seus engenheiros estragam tudo fora dela!

Foi uma corrida espetacular e o fim do controle de tração não representou muito perigo para os pilotos. A saída de pista de Glock poderia acontecer perfeitamente com o Controle de tração, mas as freadas mal calculadas do campeão Kimi Raikkonen podem caracterizar que o fim do controle do freio-motor faz muito mais falta. Porém, Hamilton não enxergou esses problemas e largou para esta temporada com vantagem sobre os seus teóricos rivais diretos. Os dez pontos que a Ferrari já tem de desvantagem para Lewis será difícil de se tirar, principalmente se mantiver essa assustadora confiabilidade e os vermelhos ainda terá que lhe dar com a BMW, tão rápida quanto eles e se não fosse Nakajima, teriam chegado com os dois carros. Teremos uma grande temporada pela frente!

4 comentários:

Anônimo disse...

grande análise. fiel ao que aconteceu. espero que a proxima, por ser disputada em autodromo seja mais normal, com menos acidentes. grande corrida do rubens, me parece que a honda para subir na classificação, tem que melhorar a tração nas saidas de curvas. abraço do emerson de santos/sp

Speeder76 disse...

JC: disseste no primeiro parágrafo que a última vez que houve poucos a chegar ao fim foi Indianápolis 2004. É que houve Indianápolis 2005, a corrida do "escândalo Michelin", onde somente seis carros partiram e chegaram ao fim...

João Carlos Viana disse...

Eu lembrei do episódio Michelin Speeder, mas não considero aquela corrida normal. Em 2004 houve vários abandonos, enquanto em 2005 a confiabilidade foi de 100%!

Arthur Simões disse...

Bem que voce falou JC,que o Massa ia se dar mal com o fim do controle de tração.
Mas o nosso Galvão ,como não poderia deixar de ser,tentou tirar a culpa do Massa falando que o Kovalainen tocou nele na primeira curva sem ter visto o replay.Lamentável.