sábado, 29 de março de 2008

História: 15 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1993

Em sua volta à F1, Alain Prost mostrou que ainda tinha o toque de campeão e massacrou a concorrência em Kyalami, colocando uma volta em todos os pilotos, com excessão do seu arqui-rival Ayrton Senna, que ficou mais de um minuto atrás do Williams que o brasileiro chamou de "carro de outro planeta". Senna estava frustrado com o seu equipamento e novamente havia o suspense de que o brasileiro não participasse de sua corrida caseira, já que Senna ainda não tinha definido seu contrato com a McLaren. Somente na quinta-feira, na véspera do primeiro treino livre, Senna anunciou que participaria normalmente da corrida em Interlagos.

A diferença entre o carro da Williams para os demais chegava às raias do absurdo. No primeiro treino livre, Alain Prost e Damon Hill ficaram com os melhores tempos, com as surpresas Karl Wendlinger em terceiro de Sauber e Erik Comas em quarto com um Ligier-Renault. Enquanto os dois pilotos da Williams tinham o tempo de 1:18.4 e 1:18.6 respectivamente, o melhor tempo de Wendlinger era de 1:19.8... Na primeira sessão de Classificação, Prost usou sua maestria para marcar o melhor tempo sem muitos excessos, cravando 1:16.809. Hill completava a segunda fila provisória 1s mais lento que o companheiro de equipe, enquanto Senna era terceiro com mastodônticos 1.8s de desvantagem. No sábado, Hill chegou a se aproximar de Prost, mas o francês fez outra volta muito boa para confirmar sua vigésima segunda pole da carreira, novamente 1s mais rápido que seu inexperiente companheiro de equipe. Senna continuava 1.8s atrás de Prost e teria ao seu lado o jovem Michael Schumacher. Michael Andretti fez uma boa Classificação no sábado e largaria em quinto, mas quase 1s mais lento que seu companheiro de equipe. Mesmo tendo espaço para 26 carros no grid, apenas 25 largariam no domingo. Ivan Capelli, companheiro de equipe de Rubens Barrichello na Jordan, não marcou um tempo bom o suficiente para se classificar e ficou de fora do Grande Prêmio do Brasil. Ainda traumatizado pela demissão sumária da Ferrari no ano anterior e, dizem, brigado com uma namorada, Ivan Capelli nunca mais participaria de um Grande Prêmio de F1.

Grid:
1) Prost(Williams) - 1:15.866
2) Hill(Williams) - 1:16.859
3) Senna(McLaren) - 1:17.697
4) Schumacher(Benetton) - 1:17.821
5) Andretti(McLaren) - 1:18.635
6) Patrese(Benetton) - 1:19.049
7) Lehto(Sauber) - 1:19.207
8) Wendlinger(Sauber) - 1:19.230
9) Alesi(Ferrari) - 1:19.260
10) Blundell(Ligier) - 1:19.296

O dia 28 de março de 1993 amanheceu com um céu carrancudo em São Paulo e havia a possibilidade de chuva durante a corrida. Essa era a única chance de Senna, pois em piso seco, a Williams sobrava com extrema facilidade. Prost faz uma largada convencional e permaneceu em primeiro, mas Damon Hill, talvez preocupado em completar a primeira curva sem problemas e não cometer a mesma besteira da corrida sul-africana onde rodou na primeira curva, tem mais cautela e é ultrapassado por Senna. No entanto, mais atrás o caos se instalava. Berger havia saído em décimo terceiro do grid e consegue uma largada espetacular, com o austríaco tendo ultrapassado vários carros. O inverso acontecia com Michael Andretti, ainda se acostumando a largar parado após anos largando lançado. Os dois chegaram lado a lado para a freada da primeira curva e então houve o toque, com Andretti sofrendo uma capotagem espetacular e a Ferrari de Berger ficando embaixo da McLaren. Foi um susto enorme para todos, inclusive para os fotógrafos ali posicionados, mas ninguém se machucou.

Quem se aproveitou do acidente foi a outra Ferrari de Alesi, que pulou para quarto, mas ainda na segunda volta Michael Schumacher deixou o francês para trás e partiu para cima dos líderes. Gradualmente Prost se distanciava de Senna, que se preocupava mais com a segunda Williams de Damon Hill. O inglês não podia ter um décimo do talento de Senna, mas a Williams fazia uma enorme diferença. Mais atrás, Riccardo Patrese abandonava ainda na terceira volta e com mais esse abandono, ficava claro que o veterano já estava fora dos planos da Benetton, pois além do azar, Patrese vinham tomando mais de 1s por volta de Schumacher. Na décima volta, Hill ultrapassou Senna na frente da multidão e isso calou os torcedores brasileiros que foram à Interlagos naquele dia. Na volta 13, Rubens Barrichello abandonava seu primeiro Grande Prêmio do Brasil com o câmbio quebrado. Para aumentar ainda mais o desânimo do público brasileiro, Senna foi ultrapassado por Schumacher na volta 23 e caía para quarto.

Tudo vinha dando errado para o Brasil até aquele momento e somente um milagre poderia reverter alguma coisa. E esse milagre veio do céu. As nuvens negras já cubriam Interlagos e uma pequena chuva começou a despencar a partir da volta 25. Aguri Suzuki e Ukyo Katayama foram as primeiras vítimas da chuva, que logo se tornou uma conhecida "pancada de chuva" ou "tempestade tropical". O asfalto de Interlagos foi inundado e vários pilotos foram aos boxes colocar pneus para piso molhado. Christian Fittipaldi resolveu ficar mais mais uma volta, mas a chuva era tão forte que o brasileiro não conseguiu completar sequer a primeira curva, deixando sua Minardi atravessada no meio do "S do Senna". Prost vinha disparado na frente e recebeu o aviso da Williams para trocar seus pneus, mas o francês não entendeu o recado e passou da entrada dos boxes. Foi um erro fatal! O francês aquaplanou na freada da Curva 1 atingiu a Minardi parada de Christian Fittipaldi, acabando com sua corrida e dando uma chance aos seus rivais.

Então, pela primeira vez em quase vinte anos, um safety-car foi mandado à pista, numa clara imitação a Indycar, a coqueluche do momento. O Tempra 16V ficou à frente de Hill, Senna, Schumacher, Alesi, Herbert, Lehto e Zanardi. Depois de nove voltas andando atrás do safety-car, a pista foi liberada na volta 38 e a ação começou novamente. A chuva já tinha ido embora e a pista secava rapidamente, enquanto Hill tinha uma vantagem confortável, mas não muito grande, sobre Senna. Na volta 41 o brasileiro foi aos boxes colocar pneus para piso seco e na volta seguinte foi a vez de Damon Hill. De forma inesperada, a Williams trabalhou bem e o inglês voltou bem à frente de Senna, mas com os pneus frios. Então, ocorreu outro momento mágico dessa corrida. Senna se aproximou de Hill na Subida do Lago, tentou de um lado e ultrapassou pelo outro. O milagre estava acontecendo em frente aos nossos olhos. Senna liderava e começava a se distanciar de Hill!

Mais atrás, Schumacher perdeu muito tempo em seu pit-stop e agora perseguia a Lotus de Johnny Herbert. A tradicional equipe Lotus nem de longe lembrava a equipe campeã de outros anos e ver Herbert em terceiro era uma grande visão para os entusiastas da F1 e fãs da marca inglesa. Schumacher vinha forte e queria a terceira posição de qualquer forma, mas Herbert segurou como pôde o alemão, mas Schummy efetuou a ultrapassagem faltando poucas voltas para o final. Porém, o clímax se aproximava e Senna partia para a sua segunda vitória em casa e se em 1991 ele mal conseguiu se levantar do seu McLaren, agora ele seria levantado pelo povo, que invadiu a pista de Interlagos após a bandeirada. Mesmo perdendo o lugar no pódio, a Lotus vibrou ao colocar seus dois carros na zona de pontuação, mas o que a equipe não sabia era que esta situação não se repetiria mais, assim como Alessando Zanardi marcaria seu único ponto na carreira.

Durante o pódio, após um desfile triunfal em um carro de serviço, Senna deu um forte abraço no penta-campeão Juan Manuel Fangio, que lhe entregou o trófeu de vencedor, em sinal de reverência ao mito argentino. Ron Dennis também comemorava bastante, pois esta foi a centésima vitória da McLaren e também se rendia a Senna, que mostrou que nem toda a tecnologia do carro Williams poderia deter um talento tão genuíno.

Chegada:
1) Senna
2) Hill
3) Schumacher
4) Herbert
5) Blundell
6) Zanardi

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