O ser humano tem cinco sentidos, mas nossa sensibilidade de sentir o que está por vir, mesmo não tendo certeza de que isso irá acontecer de verdade, nos faz dizer que temos um sexto sentido. E meu sexto sentido diz que essa rodada de Felipe Massa na corrida de hoje não apenas o tirou da luta pelo título deste ano, como também tirou do brasileiro o status de piloto de ponta, quiçá o seu posto de piloto da Ferrari em 2009. A pole de Felipe parecia ilusória desde que ele colocou mais de meio segundo em Kimi e se mostrou na prática quando o finlandês escolheu quando iria ultrapassar durante a corrida. Ao contrário do ano passado, quando demonstrou grande força mental, Felipe errou sozinho quando mais pressionado e se complicou demais dentro do seio ferrarista.
Ao contrário da corrida da Austrália, Sepang nos mostrou uma corrida sem grandes lances de emoção e decidida nos boxes, com a estratégia das equipes e as paradas, boas ou más, dos pilotos. Kimi Raikkonen venceu sem grandes dramas e o único problema no finlandês neste domingo foi o champagne que caiu no sue olho durante o pódio. O nórdico estava tão confiante que mesmo largando muito melhor do que Massa, preferiu deixar o seu companheiro de equipe partir na frente na primeira curva para o ultrapassar na primeira parada dos boxes, mas bem que a primeira posição poderia vir na segunda parada, tamanho era a vantagem do ritmo de Kimi em comparação a Massa. Como primeira vitória após conquistar o título no final de 2007, Raikkonen deverá ganhar um belo empurrão na luta pelo título de 2008 e sua motivação deve estar maior do que nunca, principalmente pela superioridade imposta pela Ferrari neste final de semana, quando a equipe italiana não teve adversários no dia de hoje. Muito provavelmente Raikkonen não ficou com a volta mais rápida por que se viu livre do único piloto que poderia lhe tirar a vitória e assim diminuiu drasticamente o seu ritmo.
E Massa, que tinha tudo para conseguir mais uma volta por cima consagradora, agora se vê em voltas de uma rodada ridícula, quando tinha aproximadamente 20s de vantagem sobre o adversário mais próximo e tinha acabado de ser superado pelo seu companheiro de equipe. Suas mãos na cabeça, após abandonar a corrida, indicam o desespero de um piloto que pode ter perdido a chance de sua vida, pois a Ferrari não segurará um piloto que erra tanto. Sempre achei que a aversão de Felipe Massa a proibição ao controle de tração vem do seu pé-pesado demais e em duas corridas, Massa errou duas vezes justamente pela falta do controle de tração. Ao ver Kimi Raikkonen, com o mesmo carro, o ultrapassar no box e disparar na sua frente, fez com que Massa tentasse forçar além do limite. E o resultado todos vemos. Para piorar, Massa disse que "sentiu algo estranho no carro" e não sabia o que tinha acontecido, mas o dedo-duro da telemetria entregou o erro não admitido de Massa e isso, fora ter perdido pontos preciosos no Campeonato de Construtores para a Ferrari, deverá deixar um clima pesado para o brasileiro, que segue com a mania de não admitir as besteiras que sempre fez, e pelo jeito continuará fazendo.
Com a rodada de Massa, vale destacar aqui o péssimo desempenho global na tentativa de achar alguma desculpa, esfarrapara por sinal, pelo erro do "nosso brasileirinho". Primeiro Reginaldo Leme insistiu na tese da conspiração contra os brasileiros que a Ferrari tem desde que Rubens Barrichello dividia o mesmo teto com Michael Schumacher. O fato de Raikkonen ter reabastecido por menos tempo não significa um favorecimento da Ferrari pró-Raikkonen, e sim uma estratégia diferente adotada pelo engenheiro de corrida do finlândes, Chris Dyer, e o próprio piloto. Claro que Raikkonen iria passar mais tempo na segunda parada, como realmente passou, e Massa poderia reverter ficando próximo do companheiro de equipe. E Massa não iria conseguir. Depois foi a vez do Luciano "Cheerleader" Burti tentar, de todas as formas possíveis e imagináveis, tirar a culpa de Felipe Massa, chegando a dizer que a Ferrari saiu de frente (ai!) na rodada e por isso o carro tinha quebrado. Contra as imagens, amigo, não há muito o que fazer. Por último, Galvão Bueno, diga-se de passagem o mais sereno na ocasião, ver alguma tristeza na festa da Ferrari após a corrida. A equipe comemorava o triunfo de Raikkonen sem vergonha nenhuma e se Massa não estava lá, a culpa era única e exclusiva do próprio piloto.
Se na frente a Ferrari disparou, atrás dela não houve uma grande corrida e a segunda posição foi decidida praticamente na primeira curva, quando Jarno Trulli e Nick Heidfeld por pouco não se eliminaram e Robert Kubica aproveitou a brecha para não sair mais da posição de melhor do resto. O polonês era o mais pesado do pelotão dianteiro e mereceu esse segundo pódio em sua carreira, com uma corrida sólida e sem sobressaltos. Já Heidfeld caiu para décimo e fez a melhor manobra da corrida ao fazer uma dupla ultrapassagem sobre Alonso e Coulthard, que se engalfinhavam à sua frente. O alemão ficou sempre próximo de Hamilton, mas não a ponto de tentar uma ultrapassagem. Contudo, a evolução da BMW ficou comprovada com a melhor volta da corrida marcada por Heidfeld, mostrando que a marca bávara está se aproximando cada vez mais do pelotão dianteiro.
Depois da corrida de abertura excepcional, a McLaren esteve irreconhecível na Malásia, principalmente seu primeiro piloto Lewis Hamilton. Apesar da punição e ter de largar mais de trás, Hamilton fez uma ótima largada, mas isso se tornou seu único ponto positivo no fim de semana. Preso atrás da Red Bull de Mark Webber, Hamilton tinha tudo para ganhar posições quando o australiano foi para sua primeira parada e o inglês teve pista livre à frente. Contudo, Lewis não contava com a terrível parada da McLaren, que o fez perder praticamente 20s nos pits e quando voltou á pista, Hamilton estava atrás de... Mark Webber! Foi mais um suplício para o inglês, que em nenhum momento tentou uma ultrapassagem de forma mais incisiva e hoje deve sonhar com a asa traseira da Red Bull. Porém, a quinta posição assegurou a Lewis Hamilton a liderança do campeonato, mesmo com uma margem pequena.
Kovalainen vem sendo igual aos meus perfumes: discreto e eficiente. Mais rápido que Hamilton na Classificação, o finlandês não fez uma boa largada e ficou para trás no primeiro terço de corrida. Quando os pit-stops começaram, Kovalainen andou muito rápido e fez o que Hamilton devia ter se a McLaren não errasse na parada do inglês. Por sinal, Kova surpreendeu ao parar depois do seu companheiro de equipe, indicando que foi mais rápido do que Hamilton estando mais pesado. Kovalainen vem mostrando que ninguém deve colocá-lo de fora na disputa pela vitória nas próximas etapas do Mundial. Jarno Trulli surpreendeu ao ficar com a quarta posição e mostrou que a Toyota está bem melhor em 2008 em comparação ao péssimo ano passado. O italiano pode ter vacilado na primeira curva ao se estranhar com Heidfeld, mas a partir daí fez uma corrida segura e chegou a pressionar Kovalainen pelo terceiro posto. Como não poderia deixar de ser, Trulli perdeu rendimento no final da prova e viu a aproximação de Hamilton no final da corrida, mas o italiano não queria uma repetição do GP da França de 2004 e segurou sua posição sem grandes problemas. Já Timo Glock abandonou no final da primeira volta após um toque com Nico Rosberg e não foi possível ver o que o alemão poderia fazer em ritmo de corrida.
Mark Webber marcou os primeiros pontos da Red Bull e foi muito competente em segurar Lewis Hamilton em toda a corrida, não errando e não se importando quando o piloto da McLaren colocava de lado. O australiano vem melhorando seu ritmo de corrida aos poucos, mas seu desempenho nos treinos ainda é muito melhor do que na corrida. Coulthard foi antagonista da principal manobra da corrida quando foi ultrapassado por Heidfeld e, na volta seguinte, por Alonso. Depois disso, desapareceu e chegou na nona posição, apenas a uma de conquistar um ponto. Fernando Alonso também fez o que pôde com o pior carro que tem em mãos em muito tempo. O espanhol claramente leva seu carro nas costas e poderia ter conquistado mais um ponto ao pressionar fortemente Mark Webber no final da prova, mas o fato de ter pontuado hoje foi um alívio para a Renault, que precisa melhorar e muito, se quiser manter seu piloto em 2009. Nelsinho Piquet fez uma corrida burocrática hoje, mas não se deve pedir muito mais do que isso ao brasileiro, que tinha feito uma péssima prova na Austrália e estava pressionado hoje. Piquet ficou muito tempo atrás da Honda de Jenson Button e nem sequer esboçou uma tentativa de ultrapassagem, mas pelo que fez no conjunto do final de semana, até que ficou bem.
Depois da boa exibição de Rubens Barrichello em Melbourne, a Honda voltou ao seu lugar e brigou por posições intermediárias. O que é bem melhor do que brigar pelas últimas posições, como no ano passado. Button foi o líder da equipe e mesmo sendo pressionado por Piquet em boa parte da prova, se segurou bem e manteve a décima posição, mesmo saindo da pista na penúltima volta. Rubinho parece não ter se recuperado da quebra do câmbio no terceiro treino livre e para piorar, fez uma péssima largada. Talvez ainda traumatizado com seus boxes, Barrichello errou novamente e excedeu o limite de velocidade nos boxes, fazendo com que ficasse muito para trás. A Williams foi a grande desilusão do final de semana, principalmente com Nico Rosberg, que teve uma péssima Classificação e largando mais atrás, sofreu com os velhos toques do meio do pelotão e nesse caso, ele se envolveu num incidente com seu compatriota Timo Glock. O que não deu para entender foi o porquê do piloto da Williams não ter entrado nos boxes assim que perdeu o bico, tendo que dar uma volta inteira para recolocar o nariz do seu carro. Será que ele não percebeu que estava bem o bico? Nakajima começou a corrida forte, mas perdeu rendimento no final e acabou na última posição. Como a transmissão não mostrou nenhuma rodada, algo deve ter acontecido com o japonês. Já a Super Aguri ficou nas posições de sempre, sendo que desta vez superou uma Williams, o que para a equipe é um feito e tanto. A Force India perdeu Adrian Sutil ainda no início da prova, mas viu Fisichella completar a prova e o italiano ainda chegou à frente de Barrichello, que sofreu uma penalização no final da prova. A Toro Rosso foi a única que não viu seus dois carros completarem a prova. Bourdais saiu da pista ainda na primeira volta, enquanto Vettel vinha fazendo uma corrida invisível até quebrar o motor Ferrari. O segundo em duas corridas na equipe filial da Red Bull.
Após uma corrida menos confusa na Malásia, pois a esperada chuva não aparecer, deu para perceber que a Ferrari tem um carro bem superior a concorrência, corroborando com a pré-temporada. Resta a McLaren, e até mesmo a BMW, dar a volta por cima nas próximas corridas, como aconteceu várias vezes ano passado, quando Ferrari e McLaren oscilavam na dominação das etapas do Mundial de forma impressionante. Ainda voltando à pré-temporada, muitos pensavam que a disputa seria entre os pilotos da Ferrari contra Hamilton. Pelo que fez Felipe Massa até agora, parece que será uma disputa entre os pilotos da McLaren e BMW contra Raikkonen. A situação complicou para o brasileiro!
4 comentários:
Você tem toda razão, a Globo tentou explicar o inexplicavel.
E tem mais Maffa é um fanfarrão mesmo!
As duas ultimas frases foram perfeitas JC!!!
Torci muito de madrugada, mas quando Raikkonen começou a abrir já estava preocupado,quando o Massa rodou fiquei irritado mas a gota d´água foram os comentarios da Globo,desliguei a TV e voltei a dormir.
Ouvi a corrida pela Bandeirantes... Quer dizer que o Burti falou que o carro saiu de frente, é?
Bom, talvez eu tenha visto outra corrida. Abraços. (LAP)
Olá Panda
Pior que o Burti falou isso mesmo, tamanho que era o desespero para conseguir achar uma desculpa para a melada do Massa.
Abraços!
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