A Fórmula 1 estava com medo. Nunca em sua história cinqüentenária, um piloto e uma equipe tinham dominado de forma tão avassaladora um temporada como Michael Schumacher e Ferrari fizeram em 2002. O alemão conseguiu onze vitória e a Ferrari conquistou nove dobradinhas, sendo que cinco seguidas. Rubens Barrichello também conseguira um tranqüilo vice-campeonato com outras quatro vitórias e Ferrari conseguia a humilhação suprema de marcar o mesmo número de pontos que todas as demais equipes juntas. Foi tanta humilhação que a Ferrari teve o luxo de escolher entre seus pilotos quem venceria as provas, como na Áustria e nos Estados Unidos. Algo tinha que ser feito!
A FIA entrou em campo e propôs várias modificações no regulamento esportivo do Mundial no final de 2002, na tentativa de frear a onda vermelha, com o surfista Michael Schumacher na crista. Algumas propostas eram ridículas, como o revezamento, corrida a corrida, de pilotos entre as equipes. Era algo como Schumacher de Minardi e Yoong de Ferrari e assim por diante. Porém, algumas modificações passaram e entraram em vigor, como a nova pontuação (ainda em vigência) e a nova Classificação. Assim como nas categorias americanas, o piloto ia para a pista sozinho e numa única volta lançada, marcaria o seu tempo para o grid de domingo. Mas não acabava por aí. Após a Classificação, todos os carros iriam para o Parque Fechado, só sendo liberados para as equipes poucas horas antes da largada, extingüindo o warm-up, e fazendo com que os pilotos treinassem com o mesmo combustível que iriam largar.
A nova F1 ainda era uma incógnita quando o circo da velocidade chegou à Melbourne, para a primeira etapa do Mundial de 2003. Assim como fizera no ano anterior, a Ferrari estrearia com o modelo de 2002, já que o modelo de 2003 ainda era testado por Luca Badoer. Isso sem contar a grande vantagem que o Ferrari F2002 tinha sobre os demais. Entre os pilotos das equipes de ponta, não havia nenhuma modificação e Rubens Barrichello continuava a sua inglória luta contra o sistema ferrarista, onde o brasileiro seria um eterno segundo piloto. Ainda por essas bandas, havia a estréia de Cristiano da Matta na Toyota, após o mineiro ter conquistado com folga o campeonato da CART em 2002. Após alguns anos como piloto de testes na Williams, Antônio Pizzônia faria sua estréia como piloto titular na Jaguar. A expectativa sobre ele era enorme, principalmente aqui no Brasil. Na Renault, havia a estréia do espanhol Fernando Alonso, que tinha impressionado bastante em sua primeira temporada na Minardi e após um ano como piloto de testes na equipe francesa, seria o piloto titular ao lado de Jarno Trulli.
O treino de sábado era o momento mais esperado do final de semana, mas a Ferrari jogou um balde de água fria na expectativa de um campeonato emocionante, com Schumacher conseguindo mais uma pole na sua carreira, quase 1s à frente do terceiro colocado Montoya, enquanto Barrichello permanecia como escudeiro do alemão. No final do pelotão, a Minardi dava um golpe na FIA ao fazer com que seus pilotos abortem suas voltas na Classificação, evitando que seus carros fossem para o Parque Fechado. Seria o início de uma longa briga entre o chefão da Minardi, Paul Stoddart, e o presidente da FIA, Max Mosley.
Grid:
1) M.Schumacher(Ferrari) - 1:27.173
2) Barrichello(Ferrari) - 1:27.418
3) Montoya(Williams) - 1:28.101
4) Frentzen(Sauber) - 1:28.274
5) Panis(Toyota) - 1:28.288
6) Villeneuve(BAR) - 1:28.420
7) Heidfeld(Sauber) - 1:28.464
8) Button(BAR) - 1:28.682
9) R.Schumacher(Williams) - 1:28.830
10) Alonso(Renault) - 1:28.928
Enquanto as equipes ainda quebravam a cabeça com o novo regulamento, mais um imponderável se abateu na manhã australiana do dia 10 de março de 2003: a chuva. Na hora da largada, a pista estava praticamente seca, mas a Ferrari resolve colocar pneus intermediários, enquanto Montoya, e a maioria do grid, arriscava colocando pneus para pista seca. No final da volta de apresentação, as duas McLaren, muito atrás no grid, entram nos boxes e enchem o tanque de combustível, na tentativa de uma estratégia diferente. A equipe prateada não se arrependeria dessa jogada!
A Ferrari domina na largada e logo o duo Schumacher-Barrichello disparam na ponta, seguido por Montoya e as duas Sauber. Se a Ferrari continuava o seu domínio lá na frente, atrás de Montoya uma troca incessante de posições transformam o início da prova da Austrália em uma antítese da bocejante temporada de 2002. Na sexta volta, Barrichello sai da pista e abandona. O brasileiro havia queimado a largada e já se preparava para cumprir outra novidade daquele ano: o drive-though, uma passagem pela box, mas na velocidade limite de 80 km/h. Na volta seguinte, praticamente no mesmo local, o novato Ralph Firman também bate e traz o safety-car para a pista.
Foi então que a Ferrari mostrou o motivo de um ritmo tão forte após a largada. Os carros vermelhos estava leves e Schumacher aproveitou para colocar os pneus para tempo seco, perdendo a liderança para Montoya. Com o safety-car na pista, foi possível ver o quanto a F1 estava mudada. A Renault colocava seus dois carros logo atrás de Montoya, mas a surpresa era ver Alonso à frente do experiente Jarno Trulli. Mark Webber colocava sua Jaguar na quinta posição em casa e Raikkonen já aparecia logo atrás do australiano. Porém, dez voltas depois Webber abandona a corrida e como seu carro fica num local perigoso, o Mercedes CLK volta à pista novamente. O australiano estava dando um banho no novato Antônio Pizzônia, seu companheiro de equipe na Jaguar.
Com a parada de Montoya, Raikkonen assumia a liderança, sendo perseguido de perto pela Ferrari de Schumacher. Os dois ponteiros fizeram suas paradas, entregando a ponta momentaneamene para Montoya, mas Raikkonen e Schumacher eram os favoritos para vencer a corrida e brigavam mais atrás, até que Kimi é penalizado por ter superado o limite de velocidade nos boxes e tem que pagar uma penalidade. Schumacher parecia que venceria novamente, mas uma de suas aletas laterais se quebra. O alemão teria que fazer uma terceira parada, mas ainda assim marcou a volta mais rápida da prova, porém durante a parada, a Ferrari perde muito tempo trocando a peça defeituosa. Montoya assumia a liderança faltando menos de dez voltas para o fim, mas Coulthard se aproximava rapidamente. Então...
No início da volta 48, faltando dez para o final, Montoya roda na Curva 1, dando a ponta para o veterano escocês, que fazia até então uma corrida discreta. O piloto da Williams volta bem à frente de Raikkonen e Schumacher, que brigavam pela terceira posição. Coulthard ficou bem próximo de perder o seu lugar na McLaren no final de 2002, mas ganhou mais um voto de confiança da equipe e em troca deu uma vitória inesperada para sua equipe. Apesar da pressão de Raikkonen, Montoya se segura na segunda posição. Schumacher terminava em quarto e não subia ao pódio pela primeira vez desde o Grande Prêmio da Alemanha de 2001 e seu nome não estava na ponta do Mundial de Pilotos desde o Grande Prêmio dos Estados Unidos do ano 2000. Se para o alemão o tabu já era impressionante, para a Ferrari esse mesmo tabu era ainda maior. A equipe não saía do pódio desde o Grande Prêmio da Europa de... 1999! Pelo menos por enquanto, o novo regulamento tinha dado uma nova emoção ao campeonato e uma corrida cheia de alternativas, mas era apenas o início do ano...
Chegada:
1) Coulthard
2) Montoya
3) Raikkonen
4) M.Schumacher
5) Trulli
6) Frentzen
7) Alonso
8) R.Schumacher
3 comentários:
Maravilha de texto JC !!!
Falsas impressoes que esse novo regulamento nos deu .hein?
Ainda bem que Alonso acabou com essa hegemonia da Ferrari e essa nova geraçao está aí!
Abraços!
que venha a temporada!
belo texto.
chama a atenção os dois decimos que rubens tomou do alemão na classificassão. da otica do torcedor brasileiro "tartaruga" visto por quem entende pequenissima diferença, ainda mais tendo em conta que ele era segundo piloto.
abraço do emerson de santos
Postar um comentário